quinta-feira, 2 de agosto de 2012

DEUS ESTÁ MORTO.


ORAÇÃO AO DEUS DESCONHECIDO...

Antes de prosseguir no meu caminho
E lançar o meu olhar para frente
Uma vez mais elevo, só, minhas mãos a Ti,
Na direção de quem eu fujo.
A ti, das profundezas do meu coração,
Tenho dedicado altares festivos,
Para que em cada momento,
Tua voz me possa chamar.

Sobre esses altares está gravada em foto
Esta palavra: “ao Deus desconhecido”.
Eu sou teu, embora até o presente
Me tenha associado aos sacrílegos.
Eu sou teu, não obstante os laços
Me puxarem para o abismo.
Mesmo querendo fugir
Sinto-me forçado a servi-Te.

Eu quero Te conhecer, ó Desconhecido!
Tu que me penetras a alma
E qual turbilhão invades minha vida.
Tu, o Incompreensivel, meu Semelhante.
Quero te conhecer e só a Ti servir.

Friedrich Nietzsche (1.844 – 1.900).

Muitos só conhecem de Nietzsche a frase “Deus está morto”. Não se trata do Deus vivo que é imortal. Mas do Deus da metafísica, das representações religiosas e culturais, feitas apenas para acalmar as pessoas e impedir que se confrontem com os desafios da condição humana. Esse deus é somente uma representação e uma imagem. É bom que morra para liberar o Deus vivo. Mas não devemos confundir imagem de deus com Deus como realidade essencial. (Leonardo Boff).

As paranoias, fobias, medos, e ambições, necessitam desesperadamente de um “Deus” para se sublimarem. De preferência, esteticamente impecável e irresistível. Viver a verdade, liberdade, justiça, em amor e paz incomodam o nosso ser.

Quando os véus caírem, quando os céus se abrirem, quando o santuário do coração humano for deslacrado, quando o que é oculto for revelado, quando o que é sussurrado for um brado audível, quando o que é aparente der lugar ao que é patente, quando a luz iluminar todas as trevas e todas as ignorâncias, e quando todo joio for joio e todo trigo for trigo – então, os homens, todos eles, todos nós, entenderemos como temos blasfemado contra o Santo dos Santos do coração humano; e, também, como a religião e sua moral de juízos e certezas, foi satanás na historia, e, além disso, foi a principal responsável por afastar milhões, bilhões de homens e mulheres, da genuína experiência com Deus.

O “deus” que para Nietzsche morreu foi o “deus” que já nasceu morto: o “deus” da religião.


Os sacrilégios, as blasfêmias, as irreverências, os confrontos, as acusações, por vezes o ódio ou o sarcasmo mais ferino que a lamina de uma navalha afiada o dia todo – e que são encontrados em Nietzsche, são todos próprios se deixarmos de lado Deus, e pensarmos apenas em “deus”, “igreja” e “cristianismo convencional”.

A oração de Nietzsche transcrita acima, é uma confissão de amor ao que Ama, e é a declaração de uma alma que, mesmo enlouquecida de desejo de verdade, sabe quem É Aquele que É, e sabe quem Ele É – apesar de todos os véus de linguagem que “aparentemente” fizessem separação entre ele e Deus.

O “deus” que Nietzsche anunciou seu óbito, aprioristicamente, já está morto mesmo. A hipocrisia de conveniência, ou a nossa estupidez é que não vê. Quando os nossos olhos se descortinam, apenas constatamos o seu óbito.

Esse “deus” das virtudes legalistas, da religião da moral, da justiça humana – é o grande promotor das guerras e das desarmonias vistas e vomitadas neste planeta moribundo, porem muito ocupado pelos “temas de mosquito” dos grupos formalistas e fundamentalistas existentes na terra. “Quanto mais ritualismo e cerimonialismo – menos verdade”.

Neste mundo-sistema, e de fachada, ser é irrelevante e desprezível, o importante é parecer.

Na atualidade, o importante é acontecer. Sendo assim, substitui-se o Ser, pelo fazer, e o existir pelo acontecer. Assim, as pessoas só se sentem existindo se estiverem acontecendo na sociedade, dentro dos padrões estabelecidos, nas formas de ser mais fúteis e vãs possíveis. E, se não estiverem engajadas em um ativismo frenético e tidas como importante, não se sentem sendo.

Esse “deus” é a morte do homem e da terra, e, não é Deus. Deus é pura loucura para a vaidade sapiencial, e totalmente escandaloso para a liturgia religiosa da moral fétida de fachada. Esse, como anunciou o Criador quando aqui esteve em um chassi humano, é o “deus desse mundo”, e tem sido assim desde os primórdios frequentemente um diabo. Esse “deus” tem que morrer.

Só as vidas lucidas pela graça de Deus em Cristo Jesus, tem a capacidade de enxergar e ver o óbito desse “deus”.

Paulinho Almeida.
Tempo de Vida.
02.08.2.012.

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