sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

A Força do Acreditar como Critério de Verdade

Sonhar e acreditar no sonho são o sal da vida. Não há nada de errado, em princípio, em apostar alto na vida privada ou na vida pública, correr o risco no amor, nos negócios, na arte ou no que for o caso. O comportamento exploratório – ousar o novo, tentar o não tentado, pensar o impensável – é a fonte de toda mudança, de todo avanço e da ambição individual e coletiva de viver melhor. Viver na retranca, sem esperança e sem aventura, não leva ao desastre, é verdade, mas também não leva a nada. Pior: leva ao nada da resignação amarga e acomodada que é a morte em vida – o niilismo entediado, inerte e absurdo do “cadáver adiado que procria.”


O problema não está em sonhar e apostar, mas na qualidade do sonho e na natureza da aposta. O melhor dos mundos seria combinar o ideal prático da coragem das nossas convicções, quando se trata de agir, com o ideal epistêmico da máxima frieza e distanciamento para atacar e rever nossas convicções, quando se trata de pensar. É o que propõe, de certo modo, Goethe: “Existe uma reflexão entusiástica que é do maior valor, contanto que o homem não se deixe arrebatar por ela”. Uma quadratura virtuosa do círculo: a paixão medida.

A dificuldade reside em viver à altura dessa exigência simultânea de entrega e autocontrole. Reconhecer, de um lado, que nada de grandioso se faz neste mundo sem entusiasmo e paixão, mas nem por isso aceitar, de outro, que a força da paixão e o ardor do entusiasmo se tornem critérios de verdade em nossa compreensão do mundo. Na vida pública, o duplo perigo é bem retratado pelo poeta irlandês Yeats: “Os melhores carecem de qualquer convicção, enquanto os piores estão repletos de apaixonada intensidade”. Para o indivíduo, o risco é análogo. As paixões medidas e analisadas esmorecem e definham, enquanto as paixões desmedidas e desgovernadas arrebatam e atropelam.

Aquilo que somos e aquilo que fazemos podem ter pouco a ver com aquilo que acreditamos ser ou estar fazendo. A pessoa movida por uma paixão poderosa, qualquer que ela seja, vive um momento de máxima força e máxima fragilidade. Suas certezas brilham e ofuscam. Sua autoconfiança revigora o ânimo mas tende a afogar a lucidez. A mesma confiança em si mesmo que move montanhas na vida pública e irriga o agreste na vida privada é o passaporte do auto-engano – verdades que mentem, pesadelos utópicos, quebra de confiança. O acreditar é aliado do instinto. Enquanto o homem, com sua malícia, está indo, a natureza, com a sua inocência, está voltando. É por isso que nossos desejos e metas, não importando quais sejam, têm o dom insinuante de se fazer justificar a si próprios para nós mesmos, inspirando-nos com as certezas íntimas, deliciosas e inabaláveis que nunca falham em justificá-los.

Não há nenhuma razão necessária para que o comportamento exploratório tenha que envolver alguma forma de auto-engano. As relações humanas são o que são: a paixão entre os sexos detesta a temperança e a paixão política tem horror à dúvida. Escrito ou aberto, o futuro é incerto. Nem todo erro, contudo, implica auto-engano. É a exacerbação da crença de que a verdade foi encontrada – de que as certezas e convicções que nos impelem à frente têm o valor cognitivo de uma revelação divina ou de um teorema geométrico – que trai a ocorrência de algum processo espontâneo e tortuoso de filtragem, contrabando e auto-engano. O passo fatal, do ponto de vista lógico, apesar de absolutamente natural sob uma ótica psicológica, é confundir calor com luz. É transformar a força e o brilho de uma crença – a intensidade do acreditar – em critério de verdade.

A quadratura do círculo é insidiosa e segue um padrão bem definido. Duvidar dói. Se a certeza que me toma é tão íntima, veemente e arrebatadora, então ela só pode ser verdadeira. Se o meu entusiasmo pela causa é tão intenso e as convicções que me movem à frente são tão fortes, então elas não podem ser falsas. Tudo em mim conspira para atribuir à causa que esposo e às convicções que giram em torno dela a legitimidade e a racionalidade de verdades inescapáveis. Autoridade para tanto, jamais me falta. Minhas promessas e análises, por mais delirantes que possam parecer aos incautos ou aos não-iniciados, são frutos da inspiração superior, da dialética profunda ou do mais absoluto rigor científico. Que ninguém se iluda: quem soubesse o que sei e sentisse o que sinto fatalmente chegaria às mesmas conclusões.

Seria exagero, é certo, supor que quanto maior a intensidade de uma crença, menor a probabilidade de que ela seja verdadeira. Mas o envolvimento de emoções poderosas no processo de formação de crenças é razão de sobra para que se proceda com a máxima cautela. Todo cuidado é pouco. O brilho intenso ofusca e o calor é inimigo da luz. Crenças saturadas de desejo podem ser verdadeiras, falsas ou indecidíveis. Mas o simples fato de que estão saturadas de desejo é sinal de que temos um enorme interesse – e ínfima isenção – na determinação do seu valor de verdade. Está aberta a porta dos fundos para a inocência culpada de resultados que escarnecem brutalmente de nossas intenções.

A força do acreditar, é verdade, faz milagres. Mas isso não a torna critério de verdade., assim como a disposição a resistir e agüentar todo tipo de perseguição em nome de um ideal revela, sim, bravura, mas nada nos diz sobre a validade da causa em jogo de um ponto de vista ético. A confusão, no entanto, é tão freqüente como sedutora, e nossa capacidade de resistir a ela na vida prática é variável e limitada. As mentiras que contamos para nós mesmos não trazem estampadas na fronte as suas credenciais. A análise dos caminhos suaves do auto-engano ajuda a elucidar o enigma do sofrimento que tantas vezes nos causamos a nós mesmos e uns aos outros – a metamorfose de promessas sinceras em traições obscenas na vida privada e a alquimia de certezas contagiantes em equívocos monstruosos na vida pública.

O princípio da complementaridade na física quântica reza que “uma grande verdade é uma afirmação cujo contrário é também uma grande verdade”. O poeta Hölderlin afirma que “o homem é um deus quando sonha, um mendigo quando reflete”. Sob a ótica do auto-engano, contudo, o contrário dessa grande verdade não é menos verdadeiro: o homem é um mendigo quando sonha, mas compartilha algo do divino quando reflete.

Reflexão sobre "Auto-engano!!!

Paulinho Almeida.

Tempo de Vida...

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

El-Shaddai, O Deus que se Derrama.


Evangelho Segundo São João 1:1-5.

Estar ministrando aqui hoje tem alguns motivos que de um jeito ou de outro, de uma forma ou de outra, são motivos que fazem parte da minha vida, da sua, da nossa vida. Nós nos encontramos neles e dependendo de como nós encaramos os motivos, nos desencontramos.
Mas, o fato é que estes motivos fazem parte da nossa existência. Por mais que eu tente e por mais que você se arrebente no sentido de dizer não, ainda assim, apesar de ser assim, eles estão presentes, se mostram latentes no agendamento da nossa vida.
O primeiro motivo é que El-Shaddai, o Deus que se derrama é a agenda da vida. “Porque dele por meio dele e para Ele são todas as coisas”. (Romanos 11:33). El-Shaddai, o Deus que se derrama é o tema, é o fato, é notícia na história de todos nós. El-Shaddai, o Deus que se derrama é matéria da história humana, é símbolo de sonho, de esperança, de resistência, de ternura, de abertura, de doação e entrega ao projeto Soberano.
O segundo motivo é que, sendo El-Shaddai, o Deus que se derrama a própria agenda da vida, eu preciso me definir como é que vejo, sinto, leio, percebo e interpreto o que “dele” é e o que “dele” se fala. Eu não posso me alienar e nem me distanciar da temática de El-Shaddai, o Deus que se derrama. Não existe jeito de articular escape. Eu estou comprometido e tenho de assumir uma posição em tudo que diz respeito à El-Shaddai, o Deus que se derrama.
O terceiro motivo é que eu conheço gente pra valar, gente que amei ou que amo, gente que andou ou anda comigo, gente que entrou e já saiu da história mas que continua vivendo a vida na vida de “minha história”, como é o caso da minha mãe, que já faleceu, de tios e tias, de irmãos e amigos como muitos que me ouvem. E toda essa gente viveu uma certa relação com “El-Shaddai, o Deus que se derramaI”, tiveram suas vidas tocadas por “ele” ou pelo menos “dele” pensavam. E eu não sou frio pra dizer que isto era problema deles. Quando se ama muito, tudo que envolve as pessoas que por nós são amadas, nos envolve, senão não é amor.
O quarto e último motivo é que me sinto responsável em ser interprete pra uma geração que tem muita dificuldade em ler o que está acontecendo e que ainda irá acontecer no chão da nossa história. Eu sinto uma certa mobralizaçao tomando conta de muitos, percebo uma certa analfabetização coletiva no que diz respeito aos grandes temas da bíblia e da vida e, ao lado disto tudo, vejo o desabrochar, no Brasil uma “espiritualidade” morna, sem compromisso com o Senhorio de El-Shaddai. Por causa disso é que vemos muitas Igrejas evangélicas funcionando como “balcão de serviço”.
Quero falar-lhes com a intenção de produzir reflexões a uma espiritualidade viva e da vida, a minha esperança é que em nome de El-Shaddai as minhas palavras possam produzir ponto de encontro, de abraço e de celebração.
Quero falar-lhes com a esperança de arrancar os espinhos que machucam as pessoas, arrancar as cercas, os arames e os muros que separam as pessoas.
Se hoje você abrir o coração, El-Shaddai se derramará para exorcizar todas as intransigências e instalar pontes, erguer viadutos que liguem, o seu coração com o coração d’Ele construindo, através do seu derramar, uma humanidade que faça do amor o nervo que liga os desiguais, eliminando assim, as diferenças e os rótulos que são impostos e que se traduzem em distanciamento e ruptura. Partindo destes pré-supostos nos surge uma pergunta.

Quais as prerrogativas que compõe o derramamento de El-Shaddai?

Pensemos em pelo menos três prerrogativas que nos levam a fonte, a causa, que compõe o derramamento de El-Shaddai. Olha só o que a Bíblia diz a esse respeito: “No princípio era o verbo, e o verbo estava com Deus, e o verbo era Deus...” (Jo.1:1).

A primeira prerrogativa que compõe o derramamento de El-Shaddai, é o VERBO. “No princípio era o VERBO”.

 O verbo é sabedoria eterna (imaginação).
 O verbo é expressão, aquilo que revela o interior de uma pessoa.
 O verbo é palavra que designa ação, estado qualidade ou existência.

É o que diz o livro de Gênesis, quando El-Shaddai cria o universo e o homem para ter comunhão com eles, para estabelecer com eles comunhão e curtir uma paixão eterna com a criatura.
Esta prerrogativa, que é o verbo, a palavra, está sendo resgatada na Igreja, através do conceito de que é possível possuir sem ser possuído, de restaurar quando tudo aparentemente está perdido. Não há psicologia, nem grupo de auto-ajuda para casais, que dê jeito em casamentos falidos, fadado ao fracasso, só mesmo o VERBO, a palavra de Deus restaura casamentos. (Empresas, negócios, saúde, finanças, etc.).
Penso que hoje seja o dia de verbalizar em nome do VERBO, que nos comprometemos com o derramar de El-Shaddai que veio restaurar a suficiência da palavra, nos fazendo ir além do que podemos imaginar!!!

A segunda prerrogativa que compõe o derramamento de El-Shaddai, é a “vida que estava n’Ele”. (Jo.1:4).

Esta prerrogativa gera empatia.
Imagine um homem se tornando um verme, chocante não é? Mais isso é muito pouco, é apenas uma criatura se tornando outra criatura. Agora pense mais um pouco comigo, “o verbo se fez carne”, o criador de todas as coisas se tornou criatura. C.S.Lews diz que este é um “ato absurdo de Deus”. É Deus ao alcance das mãos dos predadores.
Queridos, isto deve me inspirar a ser ministrado pelo mais simples irmão que me rodeia, afinal, foi por causa deste derramamento magnífico de Deus que todos nos tornamos “irmãos”. A palavra mais linda no corpo de Cristo é esta, é ela que nos faz “um”. É nela que governador e engraxate, se sujeitam um ao outro no amor do Senhor.
O que de belo existe em El-Shaddai o Deus que se derrama, é o resgate dessas coisinhas miúdas que a muiiiiito tínhamos esquecido.
Para mim, relacionar-se com El-Shaddai o Deus que se derrama, é isso, é troca de informações, é apelo à igualdade, é empatia, é se colocar no lugar do outro. El-Shaddai, o Deus que se derrama está se derramando hoje aqui para resgatar em nós as coisas do princípio. Esta segunda prerrogativa que é “a vida que estava n’Ele”, gera compaixão geográfica. Olha comigo ainda (Jo.1:14). “E habitou entre nós”.
El-Shaddai, o Deus que se derrama, ocupa o mesmo pedaço de chão com o homem. Isto mostra que Deus em Cristo assume três tipos de responsabilidade.

 A primeira é psicológica, Ele tem alma de homem.
 A segunda é fisiológica, Ele tem corpo de homem.
 A terceira é pedagógica, Ele aprende com os homens.

Se vocês querem ver a alegria estampada no rosto dos irmãos, abram suas casas, ou então vão à casa das pessoas simples, entre no cotidiano delas, faça como Deus em Cristo, visite a casa de Maria, Marta e Lázaro, derrame vida onde tem cheiro morte.
Esta segunda prerrogativa que é “a vida que estava n’Ele” (Jo.1:14), mostra que Deus não se diminui e nem troca seu papel, pois Ele permanece, “cheio de graça e de verdade”. (Jo.1:14b).

Graça é a capacidade de se misturar; verdade é a capacidade de não se corromper.

Debaixo da unção de El-Shaddai, o Deus que se derrama, pastoreamos e somos pastoreados, ensinamos e somos ensinados, santificamos e somos santificados.

A terceira prerrogativa que compõe o derramamento de El-Shaddai, é “a luz que resplandece nas trevas”. (Jo. 1:5).

O que esta prerrogativa me revela? Esta prerrogativa me revela a imutabilidade de El-Shaddai o Deus que se derrama. Ao se derramar humanizando, El-Shaddai não perde seus atributos, El-Shaddai os deixa palpável.
Agora a luz não é apenas um reflexo é lamparina que se toca, que se permite acender por uma mãe desesperada, ou um pai aflito, é o toque nos olhos do cego à beira do caminho, enfim, é luz ao alcance de todos, é luz do mundo no mundo.
Uma igreja que se derrama diante de El-Shaddai que se derrama, possibilita este alcance da luz, senão veja o que diz o texto sagrado: “A saber: a verdadeira luz que vinda ao mundo, ilumina a todo homem”. (Jo.1:9).
A luz a tudo penetra e não se contamina, uma Igreja que se derrama, pode penetrar em qualquer bairro, em qualquer país, pois tem esta característica. Na China, mais de um milhão de irmãos, vivem como Igreja que se derrama. Este foi o método da Igreja primitiva, também será, o mesmo método da igreja da última hora, aleluia!!!
Precisamos de mais companheirismo, mais solidariedade em nossas Igrejas. O modelo Oikós, de casa em casa nos oportuniza este estilo de vida.
“Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder a cidade edificada sobre um monte”. (Mt.5:14).
El-Shaddai, o Deus que se derrama, está desafiando eu e você a edificar sobre um alto monte. E não tem como edificar sobre um alto monte sem se derramar como Ele!!!


Na esperança que não desvanece mesmo quando se derrama!!!


Paulinho Almeida
Tempo de Vida...