sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Tempo Bom, Tempo de Mudança!!!


Evangelho Segundo São Marcos 4:35-41

Mudança é algo que está inserido na existência humana; as crianças mudam constantemente, os adolescentes vivem em mudanças diárias; sentimental, física e intelectualmente. Os adultos também mudam, embora um pouco mais lentos, mais mudam. Talvez seja por isso que nosso sentimento, nosso homem interior, teima em não querer mudar achando que estabilidade trás felicidade e certezas, com as quais gostamos de conviver. Os discípulos de Jesus de Nazaré, são protótipos, figura de nossa humanidade; quando Jesus nos desafia a mudanças surgem logo algumas resistências. Todavia, com um pouco de esforço, quando aceitam o desafio da mudança acumulam experiências para toda a vida e a vida toda. O texto de Marcos 4:35-41, trás consigo alguns tesouros escondidos e riquezas encoberta, vamos juntos mergulhar neste mar e descobri-los.

Nunca é tarde para mudar se Jesus de Nazaré está com a gente.

O texto diz: “Naquele dia sendo já tarde”... (v.35). Passar para outra margem naquela hora do dia seria no mínimo precipitado, cronologicamente era incerto, não havia os mesmos recursos que hoje tem as navegações. Por outro lado, tecnicamente falando, qual o conhecimento que um carpinteiro tem de mar e navegação? Pedro, João e Tiago entendiam muito, mas Jesus de Nazaré, o carpinteiro da Galiléia, haja dúvida. Hoje, ainda é assim que nos relacionamos com Jesus de Nazaré, precisamos re-aprender que Jesus de Nazaré destrona a tirania do tempo, arrasa, com a ditadura cronológica e nos faz surfar sobre as ondas do desespero. É hoje o tempo de mudança, é agora o início de uma nova etapa em sua vida. Saia das parábolas e entre na palavra. Deus quer te curar da síndrome de Forest Gamp, o contador de histórias. O contexto deste texto trás consigo quatro parábolas. A primeira parábola é a do semeador, a segunda parábola é a da candeia, a terceira parábola é a da semente e a quarta é a parábola do grão de mostarda. O verso 35, reserva o segredo, o tesouro e a riqueza do tempo de mudança, se não veja: “Disse-lhe Jesus: passemos para outra margem”. Precisamos urgentemente sair das parábolas e entrar na Palavra. Jesus de Nazaré continua com a gente em tempo de mudança por meio da Palavra.

A ditadura da lógica tem que se render diante de Jesus de Nazaré em tempo de mudança.

A lógica sempre diz que para todo “efeito” existe uma “causa”. Tempestades tremendas às vezes descem ainda hoje, dos altos montes das redondezas, especialmente do monte Hermon, atingindo com violência o lago de Quinerete ou de Tiberíades, duzentos metros abaixo do nível do mar Mediterrâneo. Todavia, é preciso saber que Jesus de Nazaré jamais poderá ser domesticado pela meteorologia palestiniana, Ele tem poder para domesticar todo o universo. Por sua palavra, todas as coisas visíveis vieram do invisível, em Jesus de Nazaré, há paz para alma que está em guerra, em Jesus de Nazaré, há calma para a alma que se acalma em seus braços. Sua tempestade particular também passará, um decreto já foi liberado em seu favor, nem a morte pode te deter. Desperte o cordeiro que está dormindo em você, não tenha medo do “Tempo de Mudança”. A ditadura da lógica se renderá diante de você, em nome de Jesus de Nazaré. Seus discípulos serão preservados em plena vida do outro lado. A maior de todas as tempestades a ser vencida é a tempestade da alma, os discípulos tinham medo de perecer: “Mestre, não te importa que pereçamos?” (v.38). Jesus de Nazaré vai arrancar, extrair toda a tempestade do mar e da alma de todo aquele que crer. Celebre sua vitória!!!

Tempo bom é a pré-visão para quem navega com Jesus de Nazaré.

“Acalma-te, emudece!” As mesmas palavras pronunciadas por Jesus de Nazaré em Marcos 1:25, contra os demônios. Um dia, todo mal espiritual e material, será afastado dos fiéis em Cristo. (Ap. 21:3,4). Seria natural, que a Igreja oprimida por fortes perseguições, visse, nesta experiência, um paralelo com sua situação. Um barco sempre serviu de símbolo, de metáfora da Igreja na arte Cristã. No meio de tanta provocação, Jesus de Nazaré realmente está com sua Igreja, não havendo, portando, nenhuma razão para o temor, ainda que seu auxílio pareça demorar chegar. Jesus de Nazaré, nunca atrasa nenhum de seus compromissos. O sono físico de Jesus de Nazaré em plena tempestade anuncia, pronuncia e denuncia que a alma humana pode viver em constante “TEMPO BOM”, mesmo em “Tempo de Mudança”. Quando as pré-visões dos especialistas em economia, anunciar tempo de crise nas bolsas de valores, ande na Palavra de Jesus de Nazaré; quando tudo parecer que vai perecer, ouça o comando de Jesus de Nazaré: ...”Acalma-te, emudece!”. O vento se aquietou, e fez-se “TEMPO BOM em TEMPO DE MUDANÇA!!!”.

Conclusão.

Não temer o “Tempo de Mudança”, é o grande desafio para quem quer dar uma virada radical em 2.010, dar frutos é está em constante mudança. Enfim, “prossiga para o alvo, para o prêmio da soberana vocação de Deus que há em Cristo Jesus”. Não se esqueça de orar em secreto, pois Ele em secreto te recompensará, suba a escada do sucesso. De degrau em degrau chegarás ao topo. “Passemos para outra margem”. (Mc. 4:35b), porque é: “Tempo de Mudança”.


Paulinho Almeida.

Tempo de Vida...


quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

A Espiritualidade da Vergonha

Texto de Ricardo Barbosa

Na sociedade moderna, a tolerância transformou-se na maior de todas as virtudes. Aceita-se tudo, não se critica nada. O que mais me preocupa não é a capacidade de compaixão e paciência que a tolerância produz em nós, mas a ausência, cada vez maior, de valores e princípios absolutos que nos ajudam a separar o justo do injusto, o certo do errado.


O sociólogo francês Gilles Lipovetsky, em seu livro “A Sociedade Pós-Moralista”, descreve assim a tolerância na cultura moderna: “A tolerância adquire uma maior fundamentação social não tanto pelo fortalecimento da compreensão dos deveres de cada um perante o próximo, mas em razão de uma nova dimensão cultural que rejeita os grandes projetos coletivos, exaurindo de sentido o moralismo autoritário, diluindo o conteúdo das discussões ideológicas, políticas e religiosas de toda a conotação de valor absoluto, orientando cada vez mais os indivíduos rumo à sua própria meta de realização pessoal”. Ou seja, a ausência de uma consciência coletiva, a rejeição a qualquer verdade que seja absoluta e a busca pela realização pessoal geram uma forma perigosa de tolerância.

Entretanto, o perigo da rejeição a uma verdade absoluta está no fato de que ser tolerante hoje implica, necessariamente, não julgar, não ter mais critérios que separem o bem do mal, o justo do injusto; e, uma vez que não julgamos mais, poucas coisas nos chocam ou abalam e, quando o fazem, é por pouco tempo. Vivemos um estado de normalidade caótica, de paz frágil, de tranqüilidade tão relativa quanto os nossos valores.

Na oração de confissão de Daniel há uma declaração que vem se tornando cada dia mais rara entre nós: “A ti, ó Senhor, pertence a justiça, mas a nós, o corar de vergonha” (Dn 9.7). Isto não acontece mais. Somos demasiadamente tolerantes para “corar de vergonha”. Mesmo diante de fatos trágicos e deploráveis que vemos todos os dias, o máximo que conseguimos é uma indignação passageira. Porém, é a possibilidade de corar de vergonha que não me permite rir da corrupção, achar normal a promiscuidade, conviver naturalmente com a maldade e a mentira, ou, ainda, achar graça da injustiça.

Vivemos numa cultura que se orgulha do pecado, glamourizando-o através dos meios de comunicação, fazendo das tribunas públicas um palco de mentiras, organizando marchas para celebrá-lo, rindo da corrupção, exaltando a esperteza. E ninguém fica corado de vergonha.

Daniel contrasta, de um lado, a natureza justa de Deus e, de outro, a corrupção e a injustiça do seu povo. Ele só é capaz de fazer isto porque sua ética e moral estão ancoradas em verdades absolutas sobre as quais não pode haver tolerância. A conclusão a que ele chega é que, diante da justiça divina e do quadro trágico de um povo que se orgulha de sua maldade, o que sobra é o “corar de vergonha”.

Ele nos apresenta aqui a importância de uma vergonha saudável e essencial na preservação da dignidade humana e espiritualidade cristã. A vergonha aqui é a virtude que nos ajuda a reconhecer nossos erros, limitações, faltas e pecados porque ainda somos capazes de perceber que existe algo melhor, mais belo, mais sublime, mais nobre, mais justo, mais santo e mais humano pelo qual vale a pena lutar. A vergonha nos impõe um limite. É por isto que o caminho para o crescimento e amadurecimento passa pela capacidade de ficar corado de vergonha diante de tudo aquilo que compromete a justiça e a santidade. No caminho da santidade lidamos com o amor, verdade, bondade, justiça, beleza, entrega, doação e cuidado. A falta de vergonha nos leva a negar este caminho e optar pela mentira, manipulação, engano, falsidade, hipocrisia e violência.

“Corar de vergonha” é uma virtude que falta na experiência espiritual moderna, a virtude de olhar para o pecado que habita em nós, a mentira e o engano que residem nos porões da alma, a injustiça que se alimenta do egoísmo, a malícia que desperta os desejos mais mesquinhos, e se entristecer. Precisamos reconhecer que foram os nossos pecados que levaram o Santo Filho de Deus a sofrer a vergonha da cruz. Quando olhamos para a cruz e contemplamos nela a beleza e a pureza do amor, só nos resta “corar de vergonha”.


Aquele que nos ama, há de nos fazer corar de vergonha!!!

“Falando a verdade em amor, cresçamos em tudo, naquele que é o Cabeça, Jesus de Nazaré”. (Paulo de Tarso à Igreja de Éfeso).

Seu servo,

Paulinho Almeida.

Tempo de Vida...

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

O problema da leitura e a leitura dos problemas!!!


Já se definiu o homem como um ser que nasceu para resolver problemas. Contudo, o primeiro problema que precisamos resolver é justamente este: quais são os nossos problemas cruciais?

Allan Bloom, no seu O declínio da cultura ocidental, queixa-se da falta de profundidade e altitude intelectual dos muitos jovens universitários que conheceu. A título de exemplo, conta que, perguntando aos alunos o que é o mal, obteve certa vez a resposta unânime e imediatista: "Hitler". Com efeito, Hitler não passa de uma referência histórica, é apenas uma imagem ou uma metáfora das crueldades do século XX, não uma definição metafisicamente válida do mal. Foi mau, mas não é o mal.

E em geral, criticamos a falta de leitura pelos prejuízos imediatamente visíveis: a incapacidade de se fixar às formas ortográficas das palavras, porque nunca são lidas, e escreve-se então "adevogado", "excessão", "femenino" ou "escassês"; a incoerência gramatical (que revela uma incoerência lógica), como nas frases tantas vezes ouvidas: "Veio os homem", "Isso é para mim fazer", "Você quer que eu faço?", e outras do gênero; um vocabulário pobre, que limita e atrofia o próprio pensamento; ou até mesmo a dificuldade de determinar a dose correta de um remédio infantil usando uma tabela de peso e altura da criança.

Sem tornar a leitura o 11o. mandamento da lei de Deus, devemos ressaltar, contudo, o que de mais prejudicial pode acontecer com alguém que não tenha o hábito de ler: sua pobreza e sua insegurança existenciais. Certa livraria caracterizou muito bem essa deficiência através do slogan "Ler ou não ser". E, para citar um exemplo trágicômico, li certa vez numa redação escolar a palavra "séquiço", irresponsabilidade ortográfica que mostrava, com certeza, que o autor da redação nada ou pouco lera sobre o assunto. Dupla irresponsabilidade!

Ou se é pleno ou se é plano. Ou a pessoa se preenche de idéias, e se eleva, ou passa a caminhar no nível mais horizontalizante, que tende ao declive, ao infra-humano. E boa parte da plenitude intelectual de que tanto sentimos falta obtém-se na leitura, nessa agricultura mental que consiste em colher das palavras o sabor e a substância.

Guimarães Rosa falava das pessoas analfabetas para as entrelinhas. Ler, na verdade, é mais do que decodificar um texto. A leitura eficiente vê o não escrito. Exatamente como devemos nós, ao consultar um plano de saúde que nos é proposto, deduzir os serviços e necessidades que não são cobertos pelo plano.

Uma leitura das entrelinhas é uma leitura meditada. Meditar, aceitando uma etimologia imaginária (mas muito sugestiva), é me ditar, é ditar-me palavras maduras, que nascem da reflexão, do desejo de ouvir em minha mente uma voz mais pura, mais verdadeira.

Voz capaz de sussurrar o que realmente é importante, ou seja, o que contribui para a humanização do homem, tão propenso a permitir que seus instintos mais baixos... falem mais alto.

A leitura não é, na sua forma legítima, uma fuga da realidade. É uma fuga para a realidade. Mas exige do leitor uma qualidade, um interesse, uma preocupação. O desejo sincero de encarar os grandes problemas, sem querer resolvê-los, dissolvê-los, extingui-los, como se o ser humano fosse onipotente. Porque também somos tentados pela pretensão de ser mais altos do que somos.

Jonathan Swift, no lidíssimo Viagens de Gulliver, mostra-nos o náufrago aprisionado por aqueles corajosos habitantes de Lilipute. Sim, tinham ali um grande, um enorme problema! Como alimentar aquele monstro? Como mantê-lo vivo e preso ao mesmo tempo? E entre os variados conselhos que o rei daquele povo recebeu um deles destacava-se pela praticidade: o melhor, recomendava um dos liliputianos, seria matar o "homem-montanha" de fome ou com setas envenenadas. Solução rápida e definitiva, que não resistiu a uma reflexão teórica um pouco mais imaginativa.

Pois, liquidado o gigante, o que fazer depois com seu cadáver? Como enterrá-lo? Aquela carcaça gigantesca apodreceria, e com certeza poderia causar uma peste que se alastraria por todo o país, matando a população inteira. Um problema assim tão facilmente resolvido acarretaria um problema agora sim insolúvel.

E temos aí uma bela metáfora.

Muitos dos gigantescos problemas que surgem subitamente nas nossas praias como coisas que vêm dos mares desconhecidos e são quase infinitamente maiores do que nós, e podem nos esmagar, e são de fato impossíveis de remover, quando finalmente liqüidados tornam-se mais perigosos e fatais. Se eu "mato" o problema da morte com as setas envenenadas da superficialidade; se eu "mato" o problema do amor aplicando-lhe o golpe do pragmatismo; se eu "mato" o problema do bem e do mal com o estrangulamento do relativismo, é a mim mesmo que estou matando. Esses problemas, aparentemente resolvidos, continuam a existir na forma de focos de doença.

A solução imaginada no livro de Swift também é instrutiva. Resolveram propor a Gulliver que, em troca de liberdade e alimento, obedecesse a oito artigos de um verdadeiro contrato. O gigante deveria cumprir uma série de exigências: não se deitar nos campos de trigo, tomar cuidado para não pisar em nenhum dos pequenos habitantes do reino, ajudar nos correios mais urgentes, na guerra contra os inimigos, nos trabalhos em que fosse preciso transportar grandes pedras, enfim.

E é justamente esse contrato de convivência que uma pessoa deve estabelecer com os grandes e à primeira vista intratáveis problemas da vida. Problemas cruciais, cruzes pesadas e dolorosas. Um contrato em que possamos administrar os problemas, tirando o máximo partido deles.

Os escritores geniais nos ensinam que o conflito, o medo, o ódio, o mal são condimentos necessários para que a história seja uma boa história! E os administram para o próprio bem da história. O adultério, por exemplo, desagradabilíssimo episódio na vida de qualquer casal, torna-se, nas mãos de um Machado de Assis, de um Nelson Rodrigues, de um Evelyn Waugh, de um Dostoievsky, uma visão lúcida dos abismos. Nos quais a queda é tantas vezes inevitável.

Os grandes problemas da vida prenunciam catástrofes, desfechos trágicos, assassinatos e suicídios, mas podem também ser o ponto de partida de eucatástrofes, termo inventado pelo escritor inglês J.R.Tolkien que significa um desfecho pleno de luz e de sentido, quando o mal, o erro, a injustiça são re-harmonizados numa história que, contada, organiza o real de modo que possamos aceitá-lo tal como é, e conviver com ele, e dele obter a sabedoria.

Uma pessoa capaz de ler o mundo como uma história terrível e no entanto maravilhosa concilia em si o desconcerto e a esperança, o medo e o amor. E é na leitura amorosa dos livros, dos grandes livros, que conseguimos desenvolver esta capacidade. Capacidade de perceber na história do mundo e na biografia pessoal uma continual allegory, como escrevia o poeta John Keats, uma ficção que diz o que está interdito, insinua uma verdade nua, que mataria numa visão direta.

Talvez nosso maior problema seja este: não suportar sequer a hipótese de olhar nossos maiores e intoleráveis problemas. O que é compreensível, e até humano. Mas o homem sonha à noite, e nestes sonhos a fantasia denuncia a realidade. Ler é sonhar acordado. É acordar do falso sonho dos imediatistas. E despertar para a real função da linguagem: "exprimir as relações das coisas" (Simone Weil).

Num mundo assintático; em que o telejornal é o distintivo típico, com seus "blocos" sucessivos, sem coordenação ou subordinação, dentro dos quais um desastre aéreo, o nascimento de um jacarezinho no zoológico, o Dia das mães, a corrupção política, o Japão e o nordeste, a receita culinária e o assassino cruel são mostrados num mesmo plano, como se fossem todas as notícias importantes, sem um "porém", sem um "portanto" que os relacione, concretizando em nossas mentes, afinal, o absurdo, e nos deixando sem ação, a leitura inteligente que faz pensar, inteligir (intus + legere = ler dentro), torna-se condição de sobrevivência.

Ler ou não ser. Ler ou não ver. Ler ou não ter a força criativa de organizar com os olhos o volume e o peso do caos.

Pare e leia, pare e pense, pare e repense...

Pense nisso!!!

Paulinho Almeida.
Tempo de Vida...

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

A Celebração da Conjugalidade!!!


Entre todas as coisas que Deus fez, nada tem a insustentável beleza da conjugalidade. Ela supera todos os gestos tremendamente poéticos de Deus. Nem o céu, nem a terra, nem o mar e o infinito, pode-se comparar à poesia da conjugalidade.
Salomão, que conhecia do riscado e do bordado da conjugalidade, disse que o que “mais o impressionava era o encontro de um homem com uma mulher”. É verdade, podes crer!
O encontro de um homem com uma mulher; converte-se numa coisa perturbadoramente bela, irresistivelmente lírica, superlativamente lúdica, superdimensionadamente romântica. É, enfim a própria celebração da vida.
Quando um homem encontra a mulher de sua vida, imediatamente escreve uma poesia mais ou menos assim:

Singrar

Há mar à vista vou navegar
Sem te perder de vista
Vou te amar
Sem ter nenhum segredo
Mil sonhos pra contar

Meu prazer,
Meu colo,
Minha pele
Meu poema,
Meu prazer,
Meu bem querer
Meu bem!!!

Amor à vista vem ser meu par
Singrar todo meu corpo
Como o barco o mar
Até o por do sol festeja nosso amor

Por favor,
Com amor,
Com calor,
Me dê seus beijos
Meu prazer,
Meu bem querer,
Meu bem!!!

É assim que a gente fica quando descobre que a “costela” que faltava chegou em forma de poesia, de carne. É assim que pretendo ficar a cada manhã. Porque, por mais que tudo tenha cor e sabor nesta vida, nós caminhamos como-um-ser-na-direção-da-conjugalidade. E ninguém pode dizer que não. Isto é, como diria o escritor e dramaturgo Nelson Rodrigues, o “obvio ululante”.
Quando se ama muito descobre a percepção poética que estava encoberta. Desossifica-se, descoisifica-se a solidão, pois, os opostos se encontram. A solidão tem a capacidade de matar a veia poética de qualquer ser humano, porque todo encontro se dá no meio de muita paixão, do diá-logo e da admiração com o outro supostamente afastado. Quando a gente ama muito, tudo que envolve a pessoa que por nós é amada nos envolve, senão, não é amor!!!
O belo na área da conjugalidade pode ser verificado melhor na vida daquelas coisas que formam e estruturam todo relacionamento.

A vida dialógica

O ser humano não é só um ser que sente e pensa, mas um ser que expressa e sente desejo de dividir o que sente, pensa, descobriu, absorveu e assimilou como achado pessoal, social e cultural. A palavra diálogo é híbrida, é formada pela junção de duas palavras gregas e que são diá, que significa uma proposição através de por meio de e de logos, que significa palavra.
Diálogo é, então, comunicar-se com o outro através do encontro da palavra. Diálogo significa abertura, disponibilidade, partilhar e com-partilhar a condição de ser e fazer na vida. Diálogo tem a dimensão da celebração humana. É bom poder sentar e papear abertamente, livremente, intimamente com a pessoa que gostamos e escolhemos como cúmplice de nossos sonhos e objetivos de realização humana.
Só que diálogo não significa simplesmente poder falar. É bem mais do que isto. Diálogo só se converte em verdadeiro DIÁLOGO, quando existe a consciência de certos comprometimentos entre as pessoas que estão dialogizando. Vejam quais são:

O Diálogo Moral.

Por diálogo moral se entende a comunhão que se dá entre o querer e o fazer. Diálogo moral é ter consciência do que deve fazer e conseguir fazer o que deve. É ter noção clara do que é certo e do que é errado, do bem e do mal, do que é digno e do que é indigno, do que humaniza e do que despotencializa o ser humano, é ter discernimento racional da vontade positiva e do impulso negativo, enfim, é possuir uma visão objetiva do concreto e do superficial.
Tem de existir o feed-back, o retorno, à volta, o regresso do que está sendo dito em forma de posicionamento moral. Já dizia Inácio de Antioquia que “é melhor calar e ser do que falar e não ser”.
Se uma pessoa não leva a sério o que está sendo dito, então, naturalmente, que cessa, interrompe-se todo o projeto de comunicabilidade entre as pessoas. Se toda possibilidade dialógica fica presa e engessada ao cinismo, às brincadeiras, às piadas, se não existe uma absorção pedagógica no que está sendo falado e comentado, então, opta-se pelo silêncio, tendo em vista que ele é mais rico do que a palavra que não se compromete com quem fala e porque fala.
Lembra-se daquele episódio de uma mulher que aproximou de Jesus de Nazaré e disse que “feliz tinha sido o seio que o amamentara?” Pois bem, Jesus de Nazaré mostra que todo diálogo tem e sempre terá uma implicação moral entre as pessoas que se abrem na direção da comunicação.
Ele respondeu (diálogo é o ballet da palavra, é a dança mágica do ir-e-vir da palavra) que “mais bem-aventurado era quem ouvia e praticava a Palavra que Deus falava”.
O que evidencia pra todos nós que o diálogo sempre gera um comprometimento moral e moralizante na nossa vida.

O Diálogo Social.

Todos nós, seres humanos voltados pra conjugalidade, temos uma necessidade tribal, de nos relacionarmos com pessoas do mesmo nível social, moral, cultural e espiritual.
O casamento não se limita ao “nós” criado pelo “eu” masculino e o “tu” feminino. Vai além disto, está pra lá disto. Ele precisa de se articular na direção do “ele, ela, vós, eles” formando, assim, laços sociais que permitam troca de informações e intercâmbio cultural, como, ainda, de diversão.
O casamento não cria “ilhas”. Cria, isto sim, pontes na construção de novas e positivas relações humanas. Casamento que se fecha socialmente, que estabelece uma visão hermética fechada pros outros, tende a guetificar-se, perder-se na areia movediça da mesmice e de uma monotonia cancerígena.
Uma conjugalidade dividida, repartida, fragmentada pelo fechamento social; inexoravelmente, promove o caos social, pois caminha rumo ao isolamento social. A sobrevivência relacional, dialogal, e cultural com os outros, se dá na trama da abertura. Sem esta abertura, a vida vira um fardo insuportável.
Os padrinhos existem para que o diálogo social seja uma verdade tangível. Padrinhos significam pequenos pais, pais consorte.

O Diálogo Sexual.

De toda forma de diálogo que existe, que se encontra e experimenta-se no mundo, o diálogo sexual é o mais sublime e o mais complexo.
É sublime porque fala daquilo que mais se preserva na vida de um homem e de uma mulher, que é, a intimidade. Não se fala de intimidade pra qualquer um.
A intimidade é uma coisa que se conquista, que se ganha, que se consegue através de um caminhar-junto e de um-celebrar-em-con-junto.
É complexo por causa de todo tabu, mito, conceito e considerações erradas a respeito da sexualidade humana. Existe toda uma teia, uma rede tecida e urdida negativamente no Brasil a respeito de nossa sexualidade.
No Brasil, não existe pedagogia sexual. E o responsável por toda essa anti-pedagogia, por esse anti-diálogo, anti-informação, anti-celebração é o clero romano, com sua visão historicamente deturpada e pecaminosa desta santa e tremenda benção chamada sexo.
Até hoje enfrentamos o tabu da “maçã” no Brasil. A teologia da sexualidade humana articulada da Igreja Católica Romana é do fruto proibido, e, toda colocação que se faz é de que o sexo não é para o prazer e sim, para o dever da procriação. E isto; nem Freud explica!!!
Se ligue bem nisto, quando eu falo de diálogo sexual não estou falando somente em bater papo, conversar, fazer considerações e tecer opiniões gerais sobre sexo. É bem mais do que isto.
Quando falo em diálogo sexual penso, a priori de tudo, na capacidade de se criar uma ambiência poética e gostosamente romântica no dia-a-dia da vida. Não falo do ato em si e, sim, do te-atro que precisa ser criado para se chegar ao ato em si.
Diálogo sexual é, por mais absurdo que possa parecer e que possa chocá-lo ou chocá-la; antes de qualquer coisa, feito de gesto e não de palavra.
Diálogo sexual se constrói em torno de um dengo feito na hora do café, de chamego na saída para o trabalho, de um cafuné gesticulado na hora do almoço, de uma cócega feita na sala de televisão, do cheiro dado no pescoço no corredor da casa, de um toque clandestino no jardim, de uma piscada de olhos assim que entra no carro, de um beijo muito maluco que se manda pelo telefone, de um bilhete que se deixa na porta da geladeira, de um verso que se escreve com o baton no espelho do banheiro e por aí vai até chagar lá...
Depois, existe o diálogo silencioso de dois corpos que se encontram no diálogo mágico, místico, alquímico, da dança de corpos que musicalizam a intimidade em forma de encontro.

O Diálogo Referencial.

Por referencial se entende aquilo que se coloca como lição, exemplo, modelo, paradigma, ponto de origem e de convergimento tanto do ideal quanto do moral, pra quem está começando a difícil arte de viver e sobre-viver neste mundão tão cheio de contradições e ambigüidades.
Referencial é aquele que mostra como é e não como deveria ser. De forma que nós temos dois tipos de referenciais diante da vida e que são: Referencial da Palavra e Referencial do Gesto.
Referencial da Palavra é aquele que sempre trabalha como o pior aforisma negativista da história brasileira e, com certeza, você e eu já ouvimos muito. Ele diz assim: “Faça como eu falo, mas não faça como eu faço”.
Ele é referencial da palavra porque sabe considerar as coisas dentro de uma visão certa, correta, retilínea. Ele sabe mostrar o caminho, mas não caminha com a gente no mesmo caminho; ele sabe qual é o curso da vida, mas, na prática, tudo não passa de diz-curso. Ele é referencial da mesma forma que os escribas eram na Palestina.
Jesus de Nazaré disse que nós “deveríamos fazer e guardar tudo quanto nos dissessem, porém, não deveríamos imitá-los em suas obras; porque dizem e não fazem”. Isto está escrito em Mateus 23:3.
Por outro lado, existe o referencial do gesto. Que não fala e faz; que não tem dis-curso e sim, um per-curso. Caminha com a gente, faz chão com a gente, molha a camisa com a gente, rasga e contrai o nervo na luta pela superação de nossas fraquezas junto com a gente. Ele não aponta o caminho porque é o Caminho. Tiago de Melo diz: “Não tenho um caminho novo, o que eu tenho é um jeito novo de caminhar”. O jeito novo de caminhar apontado por Tiago de Melo é o referencial do gesto que não se torna indi-gesto, dá para degustar. Esta é também a proposta do poeta de Nazaré. Fica como Ele colocou em João 13:15, depois de lavar os pés dos discípulos. Ele disse que “Eu vos dei o exemplo para que, COMO EU VOS FIZ, façais vós também”.
Bem, no que tange a crise da família, talvez esse seja o lado que mais obstacula e prejudica a integralização de todos os que fazem parte da relação familiar.
Já dizia Carl Gustav Jung que todos nós vivemos a tensão frustrante de “ser o que não gostaria de ser”. Creio que, provavelmente, esta seja a maior frustração do ser humano. De viver uma insatisfação interior permanente pelo fato de não se sentir inteiro, integral, holístico, completo.
Por outro lado, o próprio Jung coloca que todos nós precisamos de um referencial do que É a fim de que nós comecemos uma caminhada de vir-a-ser.
Sem um referencial não se chega, não se vai a lugar nenhum. É imprescindível um modelo que nos aponte, concretamente, a realização legítima do verdadeiro ser.
O pai ocupa, como ninguém, este lugar. Ele é o primeiro espelho de nossa vida. É pra ele que começamos a olhar e a desenhar o que nós queremos ser e vamos lutar pra copiar.
O pai é, portanto, o primeiro referencial que nos chega. Durante um tempão, nossa relação vai acontecer no sentido de introjetarmos o que ele é e o que diz ser. E como não poderia deixar de ser, um dia iremos descobrir que ele é só palavra, verbalização, teoria, conjectura e nada mais do que isto.

Cristo em nós é, sem nenhuma sombra de dúvida, a referência das referências. Ele é a referência da conjugalidade, a referência da glória. O verbo se fez cônjuge, casou com sua amada e vimos sua glória em plena humanidade. Um casamento perfeito, que gerou santidade na humanidade e humanidade na santidade...
Eu me refiro a Cristo e a igreja!!!


Paulinho Almeida.

Tempo de vida...


terça-feira, 13 de outubro de 2009

Todas as Histórias do Mundo!!!


Em algum lugar está escrito, na febril e infindável produção de Borges, que todas as histórias narradas pelo homem podem ser reduzidas a quatro: a história da cidade sitiada, a história de uma viagem, a história de uma pesquisa e a história do sacrifício de um deus. Estas – segundo o cego vidente de Buenos Aires – são as histórias que narramos desde sempre e que para sempre narraremos.

Creio que se possa tentar uma simplificação e reduzir todas as histórias a duas, ambas infinitas: aquela que segue um itinerário retilíneo, peremptório, previsível e planificado e aquela que segue um itinerário curvilíneo, livre, caprichoso e imprevisível.

Poderia haver um terceiro tipo, aquele circular, no qual a previsibilidade da reta e a ondulação da curva se interpenetram, como na eterna teoria do eterno retorno: o ano perfeito especulado por Platão no Timeu, no qual os sete planetas, uma vez equilibradas as suas diferentes velocidades, retornariam ao ponto de partida; os infinitos nascimentos, mortes e renascimentos descritos por Demócrito, Nietzsche e Blanqui; a repetição de ciclos semelhantes, mas não idênticos, proferida por Heráclito, com o seu mundo gerado pelo fogo e que o fogo perenemente devora.

E poderia existir ainda uma quarta história: a da linha em espiral que ao infinito se lança e do infinito redobra: como Eros e Psiquê, narrado por Apuleio, no interior do conto mais vasto das Metamorfoses. Como a história sugerida por Ítalo Calvino na circunlocução: “Eu escrevo que Homero narra que Ulisses escuta o canto das Sirenes que cantam a Odisséia.” Ou como as histórias inventadas por Sherazade ao rei persa Shariar, a fim de distraí-lo da sádica tentação de assassiná-la, como já havia feito com as suas outras esposas, que a haviam antecedido: histórias narradas por personagens de outras histórias, que, por sua vez, contêm outras histórias, encaixando-se uma dentro da outra, como as famosas matrioskas russas.

Não gosto de me deixar levar pela suave perversão dos labirintos. Prefiro entrever, nas nossas aventuras humanas, infinitas linhas retas e infinitas linhas curvas, que se alternam, se entrecruzam e se entrelaçam ao longo de toda a história secular que nos fez homens. Sempre com a esperança da quadratura do círculo.

HARD E SOFT

Em torno da dicotomia “reta e curva” sempre houve uma disputa, como na epistemologia, quanto ao dilema entre “ciência hard” e “ciência soft”, a autopoiese e a heteropoiese, o método e a sua ausência, a ordem e a desordem, o geral e o particular, o necessário e o possível, a lei e o acaso, a previsibilidade e a imprevisibilidade, a falibilidade e a infalibilidade, assim como a objetividade e a subjetividade.

Quando os termos dialéticos são assim tão conflituais, é impossível permanecer neutro. Tomem os dois maiores arquitetos deste século, Le Corbusier e Oscar Niemeyer. O primeiro é franco-suiço racionalista. Não pode deixar de ser a favor da linha reta: “A curva é cansativa, perigosa e funesta, possui um verdadeiro efeito paralisante... A estrada curva é um resultado arbitrário, fruto do acaso, do descuido, de uma ação puramente instintiva. A estrada retilínea é uma resposta a uma solicitação, é fruto de uma intervenção precisa, de um ato de vontade, um resultado atingido com plena consciência. É algo útil e belo.”

Niemeyer é brasileiro, ou melhor, mestiço, pois em suas veias conflui sangue árabe, espanhol e alemão. Eis, portanto, a sua declaração sobre o mesmo campo: “Não é o ângulo reto que me atrai e nem mesmo a linha reta, dura, inflexível, criada pelo homem. O que me atrai é a curva livre e sensual... De curvas é feito todo o universo, o universo curvo de Einstein.”

A linha reta é limitada por suas próprias regras, por seus próprios binários, que a impedem de desviar. Se varia, ja não é mais reta. A linha curva, pelo contrário, passa por onde quiser, encontrando a sua razão de ser na sua própria liberdade: como as aves no céu, as embarcações no mar e os adolescentes na vida.

Calvino confessava: “Prefiro confiar na linha reta, na esperança de continuar até o infinito e tornar-me inatingível.” Carlo Levi preferia alimentar uma esperança diversa: “Se a linha reta é a mais curta entre dois pontos fatais e inevitáveis, as divagações a prolongarão: e se essas divagações se tornam tão complexas, tão emeranhadas e tortuosas, tão rápidas que não deixam rastro, talvez a morte não nos teste mais, talvez o tempo se perca e possamos ficar ocultos nos esconderijos mutáveis.”

PRECISÃO E APROXIMAÇÃO

Assumamos a linha reta, dura e inflexível como metáfora das ciências exatas, da tecnologia, da racionalidade e de tudo aquilo que, segundo Koyré, podemos chamar de “universo da precisão”. E assumamos a linha curva como metáfora do humanismo, da arte, da poesia, da estética e da emotividade, de tudo aquilo que evoca o “mundo da aproximação”. A história humana inteira pode ser lida como cursos e re-cursos dessas retas e curvas, desse mundos e universos; como a alternância entre crescimento espiritual e crescimento material, como fases silentes e fases rumorosas, nas quais a razão e a emoção de vez em quando se camuflam. Mas talvez, finalmente, seja possível uma síntese.

Durante milênios, até o final do século XVIII, a humanidade viveu sob a égide da aproximação, do misterioso, do mágico, do emotivo, desarmado diante das pestes, dos raios e das invasões. Em seguida, o Iluminismo e a Industrialização descobriram e privilegiaram as forças libertadoras da razão, consentindo que se impusesse com uma tal presunção que não tardou a transformar-se em tirania.

Mas a aproximação da sociedade rural e a precisão da sociedade industrial poderiam ser tomadas como tese e antítese de um processo histórico finalmente capaz de aportar, com a sociedade pós-industrial, numa síntese feliz. Consumada a experiência da racionalização extrema, conferidas às máquinas todas operações que requerem velocidade, repetição e precisão, hoje o homem pode finalmente usufruir, pela primeira vez na história, a sorte de ser saudável, culto, longevo, nômade e, ao mesmo tempo, sedentário, sereno, contemplativo e solidário.

Uma vez entregue a precisão às máquinas, ainda falta recuperar muitos aspectos da aproximação, que já não será mais aquela rude e primitiva da época rural. Salvaguardados os ganhos da experiência industrial, estes devem transformar os limites em oportunidades, conjugando a competição com a generosidade (cooperação) e a lucidez racional com o calor emotivo. Os nossos netos poderão dedicar-se à estética até porque os nossos avós dedicaram-se aos negócios, segundo a sucessão já destacada por Jhon Adams: “Devo estudar a política e a guerra, para que os meus filhos tenham a possibilidade e possam assim dar aos filhos deles a possibilidade de estudar pintura, poesia, música e cerâmica”.

Para ter a certeza das coisas que foram ensinadas”, (Evang. De Lucas 1:4).

Paulinho Almeida.

Tempo de vida...

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Um Novo Tempo, Apesar dos Perigos.

O Sermão do monte é a ousada PROPOSTA de Jesus de Nazaré em ser-mãos que se propõe a moldar, a transformar homens simples em cidadãos do Reino de Deus. Mahatmah Gandy dizia que o cristianismo não precisava de toda bíblia para produzir transformações significativas no mundo; bastava aos discípulos de Jesus de Nazaré observar as “bem aventuranças”. Ora, gerar transformações significativas no mundo é pré-suposto de um novo tempo, apesar dos perigos. O pano de fundo histórico onde se tece o desafio de gerar um novo tempo é marcado pela pressão política romana, pela pressão filosófica grega e pela pressão religiosa hebraica. Como se não bastasse, a mente dos 12 homens chamados por Jesus de Nazaré estavam impregnadas de revanchismo; no inconsciente coletivo hebraico pairava a necessidade urgente de um libertador político, filosófico e religioso, posto que a pressão tinha essa tríade. A grande proposta do evangelho não é gerar mudanças estruturais, é sim e a acima de tudo gerar “Um Novo Tempo, Apesar dos Perigos”. Vem comigo, vejamos quais os desafios que demandam o Novo tempo.

No Novo Tempo, Faz-se Necessário a Reprogramação da Mente Para Ousar Novos Sonhos e Alçar Novos Vôos.

A mente humana é viciada em consumismo. Esta insanidade não é privilégio da geração pós-moderna. Este vírus do consumismo nos afetou desde o Éden quando o fruto do conhecimento do bem e do mal engravidou Adão e Eva da síndrome da divindade. A síndrome da divindade leva o homem a pensar que o alimento é mais do que a vida. O álibi usado pela serpente foi este, “Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se vos abrirão os olhos e, como Deus, sereis conhecedores do bem e do mal”. (Gn. 3:5). Não obstante, “Vendo a mulher que a árvore era boa para se comer, agradável aos olhos e árvore desejável para dar entendimento, tomou-lhe do fruto e comeu e deu também ao marido, e ele comeu”. (Gn. 3:6). Nestes dois pequeninos textos está inserido a palavra comer quatro vezes pressupondo que o homem sofre do consumismo desde útero Edênico. Isto dá-nos a entender que a supervalorização do alimento faz sucumbir à escala de valores da vida dando ensejo de que o alimento é superior à vida. Não seria esta a razão de termos hoje uma crescente população de obesos mirins no universo? Consequentemente, após ter comido o fruto do conhecimento do bem e do mal o homem se percebe nu. “Abriram-se, então, os olhos de ambos; e, percebendo que estavam nus, coseram folhas de figueira e fizeram cintas para si”. Nasce aqui à necessidade da vestimenta, e o vestir se torna mais importante que o próprio corpo. Expressões culturais das mais antigas na história da humanidade são estas duas coisas, comer e vestir. Estas duas necessidades básicas geram no homem ânsias incontroláveis que eu chamo de síndrome da divindade. Quem muito tem quer manter o que tem para não perder o que já conquistou. Quem nada tem luta para ter o que não tem vislumbrando em quem já tem o modelo para uma vida melhor e feliz. Estes dois estereótipos perdem a possibilidade de ousar, sonhar novos sonhos e alçar novos vôos, sendo que o primeiro resume toda a vida no aqui e agora vivendo o drama dos vermes de Camões que ao serem questionados porque roíam os livros responderam: “Não sabemos apenas roemos”. Este tipo de ser humano perde a possibilidade de sonhar com uma sociedade mais justa, menos egoísta, mais solidária. Vivendo assim, nasce um narcisismo divinizado onde o que importa não é o bem estar comunitário e sim o bem estar solitário do amontoamento dos bens pessoais. Quando isto acontece nasce as diferenças de classes; surge então, o segundo estereótipo como quem diz: “se ele tem logo eu também posso ter”. E se este não consegue ter o que o outro tem usa-se a forma mais fácil para se adquirir o objeto “sonhado”; o roubo. Assim nasce uma geração sem ousar novos sonhos e alçar novos vôos. Para que ousemos novos sonhos e alcemos novos vôos é preciso reprogramar nossa mente. O grande desafio de Jesus de Nazaré com o seu pequenino rebanho era levá-los a fazer leitura certa do tempo do espaço e da história. Em Jesus de Nazaré os últimos são os primeiros, reina quem serve, ganha quem ousar perder, vive quem morre. O segredo do Reino de Deus não era destronar Cezar, sobrepujá-lo as mesmas “armadilhas da noite escura” que era a espoliação e a escravatura; não, o segredo do Reino de Deus não era trocar a situação pela oposição, situação e oposição são coisas da democracia, posto que situação e oposição são apenas lados diferentes da mesma moeda. O segredo do Reino de Deus, da teocracia, era gerar uma terceira via; Homens capazes de reverter situações com as mentes reprogramadas para “vender suas propriedades e bens, distribuindo o produto entre todos, à medida que alguém tinha necessidade”. (Atos 2:45). A comunidade dos discípulos nasce, vive e sobrevive do ousar novos sonhos e alçar novos vôos; sem depender do estado ou de influências de pistolões. Os discípulos viviam do sopro do Espírito e o Espírito leva a gente a valorizar a vida!!! “Porque a vida é mais do que alimento, e o corpo, mais do que as vestes”. (v.23). Quem pensa assim reprogramou sua mente pela palavra desafiadora do evangelho. A palavra desafiadora do evangelho pontua que projeto significativo e de mudança constante nasce, vive e permanece sob o signo da cruz. Hoje a igreja brasileira é uma das maiores senão a maior igreja cristã do mundo; todavia, vemos muita ortodoxia e pouca ortopraxia. Isto introduz o consumismo no seio da igreja, e como não poderia deixar de ser, nasce uma fé utilitarista. Cremos mais em um Deus que tudo faz (comer e vestir) do que em um Deus que tudo “É”. Um Deus que tudo “É”, faz a gente sonhar com a vida, “porque a vida é mais”... Se a vida é mais, porque quebrar a cana esmagada, porque apagar a pavio que fumega, porque apedrejar a mulher adúltera, porque judeu não conversa com samaritano. Porque tanto dinheiro gasto com programa de televisão? Porque o mundo gira em torno do meu umbigo denominacional? Porque os resultados são mais valorizados que a cura da alma? Porque o carisma vale mais que o caráter? Porque o espírito do poder vale mais que o poder do Espírito? Você já parou pra pensar nisso? Se não, “Pare e pense”. (que saudade). “Vinde a mim, todos vós que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve”. (Mt. 11:28-30). Para que haja reprogramação da mente urge restaurar a mensagem da cruz. Não existe reprogramação da mente sem sacrifício, sem perder coisas aparentemente conquistadas. A popularidade de Jesus de Nazaré aparentemente conquistada por ele (pelo menos no inconsciente coletivo hebraico e em especial dos doze discípulos) se perde no advento da cruz. Isto porque a cruz era símbolo de vergonha, de desprezo, de maldição. Na época de Jesus esta expressão figurada era compreensível de imediato a qualquer pessoa, pois todos podiam contemplar livremente as peculiaridades da pena da crucificação. Diferente de outras formas de execução, a crucificação era aplicada quando se queria tirar do criminoso não só sua vida, mas também a sua honra, quando se queria expô-lo ao desprezo absoluto e à aniquilação moral. Esta era a intenção também com o próprio Jesus: “Era necessário que [...] sofresse muitas coisas e fosse rejeitado”. Tanto para judeus como para os romanos a morte na cruz era uma morte vergonhosa, que equivalia à excomunhão. Deste modo, a carta aos Hebreus liga à crucificação de Jesus de Nazaré expressões como “expondo-o a ignomínia” (Hb. 6:6), “o opróbrio de Cristo” (Hb. 11:26), “sofreu fora da porta” (Hb. 13:12) e “levando o seu vitupério” (Hb. 13:13). O escárnio, porém, não principiava somente na cruz (Hb. 15:29,31), mas já desabava sobre a cabeça do condenado assim que este colocava o pé na rua, com a viga transversal sobre os ombros, diante da população que uivava. Ele já podia ser considerado morto e, enquanto cambaleava sob o peso da viga pelo corredor polonês da multidão, qualquer pessoa podia castigá-lo com um golpe ou um pontapé, cuspir ou jogar sujeira nele ou amaldiçoá-lo (Joaquim Jeremias teologia, p 232). Veja o que a bíblia diz acerca dessas coisas: “Quem não toma sua cruz e vem após mim não é digno de mim”. (Mt. 10:38). “Fortalecendo a alma dos discípulos, exortando-os a permanecer firmes na fé; e mostrando que, através de muitas tribulações, nos importa entrar no reino de Deus”. (Atos 14:22). O reino de Deus se constrói assim, o sonho de Deus é vislumbrar a morte de Jesus de Nazaré em favor do mundo inteiro em todos os tempos, por isso o cordeiro de Deus fora morto antes da fundação do mundo (I Pedro 1:19,20). Há aqui uma ironia, a vida na perspectiva divina “é vida que nasce da morte, é vida que traz o perdão, é muito mais que uma religião, é Cristo morando na gente!!! O sonho de Deus é que sua igreja, sua amada siga o mesmo plano agendado por Ele; plano este que fez Jesus de Nazaré vencer todo antropocentrismo, todo ego sob o signo da cruz. “Sonho que se sonha só é só um sonho que se sonha só, mas, sonho que sonha junto é uma realidade”. “a saber, que Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não imputando aos homens suas transgressões, e nos confiou a palavra da reconciliação”. (II Cor. 5:19). convocando, provocando e evocando, homens e mulheres que queiram viver um novo tempo, apesar dos perigos. Hoje é dia de reprogramar nossa mente para ousar novos sonhos e alçar novos vôos!!!

No Novo Tempo, Precisamos Lidar Com as Variações da Alma.

A alma é um complexo de surpresas, é ela responsável pelo registro, o arquivamento, a catalogação das impressões externas, das vivências contraditórias, das informações que chegam e grudam, colam, se alojam no mais profundo do nosso psiquismo, gerando a partir das sensações sentidas, o trágico sentimento de baixa-estima, de ansiedade, que é sem sombra de dúvida, a porta que abre para o horizonte da desumanização. O que Jesus de Nazaré está querendo dizer quando pontua pra gente “Não andar ansioso por coisa alguma”. (v.22) é que precisamos lidar com as variações da alma. Quando não relacionamos bem com as variações da alma, somos carregados por estas variações como folha seca ao vento. A alma é como o filho pródigo, quer o prazer sem fazer se quer nenhum sacrifício. Posto o desafio de ser “bem aventurado” na vida, vem a reboque também os desafios, as demandas, os sacrifícios, sem os quais não se pode desenvolver o reino de Deus. Tais desafios mexem com nossas emoções, espremem nossa essência, tira o nosso substrato. Quando isso acontece nossa alma começa a tergiversar, claudicar, mancar entre querer fazer o bem e não conseguir fazê-lo, querer não fazer o mal e acaba fazendo; exatamente por causa dessas variações que não pedem licença para dominar a sede dos sentimentos, levando-nos a exclamar, “miserável homem que sou quem me livrará do corpo dessa morte?” Jesus de Nazaré ironiza quando diz que as nossas necessidades por mais que sejam legítimas não conseguem acrescentar quarenta centímetros (côvado) ao curso da vida, ou seja, não podem nos fazer “andar...” [...]. Andar é necessidade básica, todavia andar ansioso por alguma coisa tira o nosso foco, embaça nossa visão, violenta nossos sonhos, e faz adoecer a esperança. Andar ansioso faz-nos presa fácil das inquietações. Percebo no ceio da igreja certa inquietação, a busca por muita quantidade e pouca qualidade, muita ação e pouca unção, muito carisma e pouco caráter; muito cargo e pouco encargo; até porque, o que sempre fez a igreja caminhar foi o avesso do que citamos acima. As características da igreja deveria ser aquelas citadas no ensinamento de Jesus de Nazaré. Antes de tudo, qualidade depois quantidade, unção depois ação, caráter depois carisma, encargo depois o cargo. Quando os valores são mudados nascem às inquietações, e toda inquietação não passa de andar em círculos, alguma coisa parecida com quarenta anos andando no deserto. As variações da alma precisam estar sendo bem monitorada por aqueles que pretendem andar lado a lado com Jesus de Nazaré, e esta monitoração tem haver com auto-conhecimento. No novo tempo, apesar dos perigos, o auto-conhecimento surge da entrega sem reservas ao projeto do reino de Deus; entregar-se sem reserva não é função do Espírito Santo e sim de todos os que aceitaram o desafio de buscar primeiro o reino de Deus e sua justiça. “E não vos entregueis as inquietações”. (v.29). Que a nossa inquietação seja esta: “Se viver, viverei para o Reino e se morrer, morrerei para o Reino!”. Este tipo de vida faz-nos lidar melhor com as variações da alma!!!

No Novo Tempo, Nossa Esperança Deve Ser Bem Maior que a Vingança.

Várias conquistas das classes dominadas na história da humanidade nasceram da vingança e não da esperança. Diferente desta máxima, Jesus de Nazaré propõe que a implantação do Reino de Deus não deveria jamais partir da vingança. Por esta razão ensina o mestre que deveríamos “amar nosso inimigo e orar pelos que nos perseguem”; quando isto começa a acontecer é porque a esperança começou a dilatar nosso coração, sensibilizando nossa alma; dando-nos a entender que até o maior inimigo carrega na sua interioridade potencialidade amigável, posto que pela oração tudo possa mudar! O mesmo acontece com quem nos persegue, pressupondo que o perseguidor um dia caminhará lado a lado com o perseguido. Quem ver a vida com estas perspectivas, com certeza está gestante da esperança. É preciso pedir ao Pai que faça a esperança abrir as asas sobre nós, alçar vôos rumo ao novo tempo, apesar dos perigos. Quando andarmos sob o signo da esperança, mudanças significativas acontecerão na familia que é a célula mater da sociedade; maridos poderosos chefões se transformarão em cavalheiros, esposas tiranas se transformarão em verdadeiras Amélias voluntariamente, filhos rabugentos serão parceiros incontestes do bem estar familiar, pais encrenqueiros deixarão de suscitar ira aos seus filhos. O que de fato quero jogar pra dentro da sua alma, é que toda transformação começa dentro de casa. Perceba que toda violência nos grandes centros urbanos no mundo inteiro, nasce exatamente do sentimento de vingança que é fruto da violência sofrida dentro da própria casa. Faz-se necessário debruçarmos ante o trono de Deus e pedirmos urgentemente, “venha a nós o teu Reino”. O Reino de Deus manifestado quebra o revanchismo anula os preconceitos, abole a violência, expõe as diferenças, manieta a vingança e acima de tudo engravida nossa alma de esperança, e a alma grávida de esperança é certo que dará a luz um novo tempo, tempo este que será marcado pela flexibilidade, onde se anda a segunda milha, ou seja, mais do que o exigido. Neste tempo a extravagância no amor sempre estará superando a possibilidade do ódio mostrar sua carranca, sua careta. Os discípulos de Jesus de Nazaré teriam que administrar bem suas emoções, pois por mero capricho queriam mandar fogo para destruir uma cidade inteira de samaritanos, por causa de uma pequena oposição a eles (Lucas 9:51-56). Imagina se eles pudessem pegar Herodes, Cezar e outros; na esquina? Não é assim que nos sentimos quando aparentemente nossa autoridade é contestada, quando nosso projeto é interrompido, quando esposas resistem aos maridos, quando maridos mandam e desmandam nas esposas, quando nossa liberdade de expressão é caçada, quando a ditadura tenta destruir a democracia, quando a oposição confronta a situação? No Reino de Deus, o Rei não é verdugo porque ama os súditos, os súditos não são servos porque foram chamados a ser amigos e amigos sabem os segredos do amigo. Perceba que nesta perspectiva, todas as coisas nos foram acrescentadas. O interessante é que estas coisas acontecem do particular para o geral. O problema está em que procuramos transformações do geral para o particular. Quando digo que o Reino flui do particular para o geral é porque o conselho fora dado antes e acima de tudo ao “pequenino rebanho” dos doze discípulos. O texto diz que o Pai se agradou em dar ao rebanhozinho e não ao rebanhão, o seu Reino. “Buscai, antes de tudo, o seu Reino e a sua justiça, e estas coisas vos serão acrescentadas”. (v.31). “Não temais, ó pequenino rebanho; porque vosso Pai se agradou em dar-vos o seu Reino”. (v.32). Deus está esperando nosso posicionamento em relação ao novo tempo! No novo tempo nossa esperança deve ser bem maior que a vingança! No novo tempo segundo a declaração profética, “O lobo habitará com o cordeiro, e o leopardo se deitará com o cabrito; o bezerro, o leão novo e o animal cevado andarão juntos, e um pequenino os guiará. A vaca e a ursa pastarão juntas, e as suas crias juntas se deitarão; o leão comerá palha como o boi. A criança de peito brincará sobre a toca da serpente, e o já desmamado meterá a mão na cova do basilisco. Não se fará mal nem dano algum em todo o meu santo monte, porque a terra se encherá do conhecimento do Senhor, como as águas cobrem o mar” (Isaias 11:6-9). Perceba que a voz profética decreta que as coisas antagônicas, os opostos, os contrários se atrairão, e juntos comporão o Reino no novo tempo e então, não haverá mais perigo, porque os indomáveis serão domesticados, glória a Deus. Tudo isto acontecerá quando o “pequenino rebanho” encarnar a mensagem “que ao Pai se agradou em dar-vos o seu Reino”. Que venha este novo tempo e seja banido todo o perigo!!!

No Novo Tempo, a Essência da Vida é a Voluntariedade e a Generosidade.

Quem vive sob o signo da escravatura não conhece o que é voluntariedade e generosidade, até porque a escravatura estupra, violenta o dom supremo que é o promotor da essência da vida. O amor é o dom supremo, e é no útero do amor que vemos nascer à voluntariedade e a generosidade. Quando declaro que voluntariedade e generosidade é a essência da vida, de fato quero dizer que voluntariedade e generosidade são como dois braços capazes de abraçar, promover cura, acariciar. Verbalizar que amamos sem transformar isto em gestos não gera nenhum tipo de mudança, não inaugura o novo tempo. Voluntariedade é disponibilidade de tempo, de bens; generosidade é a entrega deste tempo, destes bens. Estes gestos enobrecem a humanidade, leva-nos a andar de mãos dadas rumo ao novo tempo, faz-nos caminhar o caminho mais alto que o nosso, faz-nos pensar o pensamento mais alto que o nosso. “Vendei os vossos bens”, isto é imperativo e urgente. O acúmulo de bens nos desumaniza, despotencializa a solidariedade, quebra os dois braços, voluntariedade e generosidade, que deveria abraçar promover cura, acariciar; entulhando a nascente do amor, impedindo a inauguração do novo tempo. “Dai esmolas”, também é imperativo e urgente. O ato de dar esmolas deve ser muito mais do que desencargo de consciência, quando existe generosidade neste ato elevamos o ser carente ao mesmo nível do ser suprido, e assim cumprimos a máxima do evangelho, do reino de Deus. “Porque tive fome me deste de comer, tive sede me deste de beber, estava preso e foste me visitar”. A prática do evangelho deve ser exageradamente diferente da prática do estado, da política, da organização social. É necessário resgatarmos o fundamento desta prática. Às vezes colocamos a responsabilidade no governo, no estado, nos políticos e nada fazemos como igreja para mudar a diferença berrante que existe até mesmo no nosso meio. Jesus de Nazaré disse que seus discípulos seriam conhecidos no mundo pelo exercício do amor. “E nisto conhecereis que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros”. A igreja primitiva impactou não pela mídia, não pela propaganda, mas pela vida que vivia, pela voluntariedade e generosidade existente naquela primeira “comum unidade”. Os primeiros discípulos fizeram para eles, bolsa que não desgastaram tesouro inextinguível nos céus, aonde não chega o ladrão, nem a traça consome. O coração é o responsável por tudo que possa acontecer. É no coração que vemos o limiar do novo tempo, no coração estará o resgate da voluntariedade e da generosidade. Precisamos urgentemente colocar o coração em tudo que formos realizar para o próximo, principalmente para os menos favorecidos. “Porque, onde está o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração” (Lc. 12:34). Tesouro é algo que contém presupostamente riquezas, bens inalienáveis; às vezes seres humanos querem transformar bens espirituais em coisas palpáveis, isto só é possível quando tocamos o outro como a nós mesmo, eis à razão exposta por Jesus de Nazaré de amarmos o próximo como a nós mesmos. Este tipo de vida está escasso, está em extinção, todavia se entregarmos nosso coração ao Pai ele vai resgatar através do seu espírito homens e mulheres que serão capazes de inaugurar o novo tempo. “Do coração procede às saídas da vida”. A tríade que revela um coração convertido e convencido de que deve fazer o bem sem olhar a quem, são reveladas em Lucas doze versos trinta e três; veja aí, “Vendei”, “daí”, “fazei”. Este é o desafio de “Um novo tempo apesar dos perigos”.

“Vendei os vossos bens e dai esmolas, fazei para vós outros, bolsas que não desgastem tesouro inextinguível nos céus, aonde não chega o ladrão, nem a traça consome”. (v.33).

“Porque, onde está o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração”. (v.34).

Conclusão.

Jesus de Nazaré trouxe ensinos preciosos acerca do que realmente devemos buscar. Servir aos outros como Ele serviu, a ponto de dar a Sua vida pela nossa salvação, é o modelo a seguir. O melhor é ser importante para Deus, gerar um novo tempo apesar dos perigos e nada mais!!!

Aplicação.

Procure um meio de servir aos outros por meio do seu testemunho pessoal. Aceite o desafio de falar do amor de Deus que alcançou o seu coração. Sirva sem ser visto. Minha paixão acima da razão e lucidez tem nome: Jesus de Nazaré!!!

Por Ele viver...

Por Ele morrer...

Por Ele ressurgir...

É-ter-na-mente!!!


Paulinho Almeida.

Tempo de Vida...