domingo, 2 de fevereiro de 2020



SAUDADE...

Saudade é feita tanto de partidas como de chegadas, na mesma medida, sem nunca poder ser medida ou quantificada.

Saudade é feita da partida do que é presente e que se faz, assim, ausente com a tua chegada a um sítio diferente.

E a saudade fica.
Fica apertada, aperreada, debaixo da pele escondida, mas na garganta calada nunca fica; escapa-se num grito pungente e acaba por ser revelada no brilho húmido de um olhar ausente.

Saudade
Dos olhos
Outrora presentes
Que, na lonjura,
Se fizeram ausentes.
Saudade
Dos sorrisos largos
Que nem tempo ou distancia Conseguem dissipar.

Saudade
De cheiros que afloram
Sem aflorar
Por nada mais serem
Que memória distante,
Mas que se fazem
De tal modo presentes
Que, sem querer,
Sentes que os estás
De novo a cheirar.

Saudade
Feita de suspiros
De olhares fugidios
Rosto no rosto amado,
Faces molhadas
Que se afogam no espanto
De momentos tão presentes,
Tão intensamente sentidos
Mas que, no instante seguinte, podem parecer distantes mas nunca ausentes, nem de ti nem de mim.

Saudade é tropicália,
É destino adiado,
Tantas vezes roubado
Nesse adiar,
Que a vida não espera
Por quem da espera
Faz seu lugar,
Que a vida é galope,
É cavalo a trote que,
Nas voltas de um ciclo
Dá a volta,
Trazendo-te de volta
Àquele lugar donde
Nunca saíste até lá voltar,
Sendo a saudade
O mote
Que a vida a galope
Te leva por fim, a matar.

Num Golpe d'Asa.

Paulinho Almeida.
#TempodeVersos.
02.02.2.020.

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