ORAÇÃO AO DEUS DESCONHECIDO...
Antes de prosseguir no meu
caminho
E lançar o meu olhar para frente
Uma vez mais elevo, só, minhas mãos
a Ti,
Na direção de quem eu fujo.
A ti, das profundezas do meu
coração,
Tenho dedicado altares festivos,
Para que em cada momento,
Tua voz me possa chamar.
Sobre esses altares está gravada
em foto
Esta palavra: “ao Deus
desconhecido”.
Eu sou teu, embora até o presente
Me tenha associado aos sacrílegos.
Eu sou teu, não obstante os laços
Me puxarem para o abismo.
Mesmo querendo fugir
Sinto-me forçado a servi-Te.
Eu quero Te conhecer, ó
Desconhecido!
Tu que me penetras a alma
E qual turbilhão invades minha
vida.
Tu, o Incompreensivel, meu
Semelhante.
Quero te conhecer e só a Ti
servir.
Friedrich Nietzsche (1.844 – 1.900).
Muitos só conhecem de Nietzsche a
frase “Deus está morto”. Não se trata do Deus vivo que é imortal. Mas do Deus
da metafísica, das representações religiosas e culturais, feitas apenas para
acalmar as pessoas e impedir que se confrontem com os desafios da condição
humana. Esse deus é somente uma representação e uma imagem. É bom que morra
para liberar o Deus vivo. Mas não devemos confundir imagem de deus com Deus
como realidade essencial. (Leonardo Boff).
As paranoias, fobias, medos, e
ambições, necessitam desesperadamente de um “Deus” para se sublimarem. De
preferência, esteticamente impecável e irresistível. Viver a verdade,
liberdade, justiça, em amor e paz incomodam o nosso ser.
Quando os véus caírem, quando os
céus se abrirem, quando o santuário do coração humano for deslacrado, quando o
que é oculto for revelado, quando o que é sussurrado for um brado audível,
quando o que é aparente der lugar ao que é patente, quando a luz iluminar todas
as trevas e todas as ignorâncias, e quando todo joio for joio e todo trigo for
trigo – então, os homens, todos eles, todos nós, entenderemos como temos
blasfemado contra o Santo dos Santos do coração humano; e, também, como a
religião e sua moral de juízos e certezas, foi satanás na historia, e, além
disso, foi a principal responsável por afastar milhões, bilhões de homens e
mulheres, da genuína experiência com Deus.
O “deus” que para Nietzsche morreu
foi o “deus” que já nasceu morto: o “deus” da religião.
Os sacrilégios, as blasfêmias, as
irreverências, os confrontos, as acusações, por vezes o ódio ou o sarcasmo mais
ferino que a lamina de uma navalha afiada o dia todo – e que são encontrados em
Nietzsche, são todos próprios se deixarmos de lado Deus, e pensarmos apenas em
“deus”, “igreja” e “cristianismo convencional”.
A oração de Nietzsche transcrita
acima, é uma confissão de amor ao que Ama, e é a declaração de uma alma que,
mesmo enlouquecida de desejo de verdade, sabe quem É Aquele que É, e sabe quem
Ele É – apesar de todos os véus de linguagem que “aparentemente” fizessem
separação entre ele e Deus.
O “deus” que Nietzsche anunciou
seu óbito, aprioristicamente, já está morto mesmo. A hipocrisia de
conveniência, ou a nossa estupidez é que não vê. Quando os nossos olhos se descortinam,
apenas constatamos o seu óbito.
Esse “deus” das virtudes
legalistas, da religião da moral, da justiça humana – é o grande promotor das
guerras e das desarmonias vistas e vomitadas neste planeta moribundo, porem muito
ocupado pelos “temas de mosquito” dos grupos formalistas e fundamentalistas
existentes na terra. “Quanto mais ritualismo e cerimonialismo – menos verdade”.
Neste mundo-sistema, e de
fachada, ser é irrelevante e desprezível, o importante é parecer.
Na atualidade, o importante é
acontecer. Sendo assim, substitui-se o Ser, pelo fazer, e o existir pelo
acontecer. Assim, as pessoas só se sentem existindo se estiverem acontecendo na
sociedade, dentro dos padrões estabelecidos, nas formas de ser mais fúteis e vãs
possíveis. E, se não estiverem engajadas em um ativismo frenético e tidas como
importante, não se sentem sendo.
Esse “deus” é a morte do homem e
da terra, e, não é Deus. Deus é pura loucura para a vaidade sapiencial, e
totalmente escandaloso para a liturgia religiosa da moral fétida de fachada.
Esse, como anunciou o Criador quando aqui esteve em um chassi humano, é o “deus
desse mundo”, e tem sido assim desde os primórdios frequentemente um diabo.
Esse “deus” tem que morrer.
Só as vidas lucidas pela graça de
Deus em Cristo Jesus, tem a capacidade de enxergar e ver o óbito desse “deus”.
Paulinho Almeida.
Tempo de Vida.
02.08.2.012.