Entre todas as coisas que Deus fez, nada tem a insustentável beleza da conjugalidade. Ela supera todos os gestos tremendamente poéticos de Deus. Nem o céu, nem a terra, nem o mar e o infinito, pode-se comparar à poesia da conjugalidade.
Salomão, que conhecia do riscado e do bordado da conjugalidade, disse que o que “mais o impressionava era o encontro de um homem com uma mulher”. É verdade, podes crer!
O encontro de um homem com uma mulher; converte-se numa coisa perturbadoramente bela, irresistivelmente lírica, superlativamente lúdica, superdimensionadamente romântica. É, enfim a própria celebração da vida.
Quando um homem encontra a mulher de sua vida, imediatamente escreve uma poesia mais ou menos assim:
Singrar
Há mar à vista vou navegar
Sem te perder de vista
Vou te amar
Sem ter nenhum segredo
Mil sonhos pra contar
Há mar à vista vou navegar
Sem te perder de vista
Vou te amar
Sem ter nenhum segredo
Mil sonhos pra contar
Meu prazer,
Meu colo,
Minha pele
Meu poema,
Meu prazer,
Meu bem querer
Meu bem!!!
Meu colo,
Minha pele
Meu poema,
Meu prazer,
Meu bem querer
Meu bem!!!
Amor à vista vem ser meu par
Singrar todo meu corpo
Como o barco o mar
Até o por do sol festeja nosso amor
Singrar todo meu corpo
Como o barco o mar
Até o por do sol festeja nosso amor
Por favor,
Com amor,
Com calor,
Me dê seus beijos
Meu prazer,
Meu bem querer,
Meu bem!!!
É assim que a gente fica quando descobre que a “costela” que faltava chegou em forma de poesia, de carne. É assim que pretendo ficar a cada manhã. Porque, por mais que tudo tenha cor e sabor nesta vida, nós caminhamos como-um-ser-na-direção-da-conjugalidade. E ninguém pode dizer que não. Isto é, como diria o escritor e dramaturgo Nelson Rodrigues, o “obvio ululante”.
Quando se ama muito descobre a percepção poética que estava encoberta. Desossifica-se, descoisifica-se a solidão, pois, os opostos se encontram. A solidão tem a capacidade de matar a veia poética de qualquer ser humano, porque todo encontro se dá no meio de muita paixão, do diá-logo e da admiração com o outro supostamente afastado. Quando a gente ama muito, tudo que envolve a pessoa que por nós é amada nos envolve, senão, não é amor!!!
O belo na área da conjugalidade pode ser verificado melhor na vida daquelas coisas que formam e estruturam todo relacionamento.
A vida dialógica
O ser humano não é só um ser que sente e pensa, mas um ser que expressa e sente desejo de dividir o que sente, pensa, descobriu, absorveu e assimilou como achado pessoal, social e cultural. A palavra diálogo é híbrida, é formada pela junção de duas palavras gregas e que são diá, que significa uma proposição através de por meio de e de logos, que significa palavra.
Diálogo é, então, comunicar-se com o outro através do encontro da palavra. Diálogo significa abertura, disponibilidade, partilhar e com-partilhar a condição de ser e fazer na vida. Diálogo tem a dimensão da celebração humana. É bom poder sentar e papear abertamente, livremente, intimamente com a pessoa que gostamos e escolhemos como cúmplice de nossos sonhos e objetivos de realização humana.
Só que diálogo não significa simplesmente poder falar. É bem mais do que isto. Diálogo só se converte em verdadeiro DIÁLOGO, quando existe a consciência de certos comprometimentos entre as pessoas que estão dialogizando. Vejam quais são:
O Diálogo Moral.
Por diálogo moral se entende a comunhão que se dá entre o querer e o fazer. Diálogo moral é ter consciência do que deve fazer e conseguir fazer o que deve. É ter noção clara do que é certo e do que é errado, do bem e do mal, do que é digno e do que é indigno, do que humaniza e do que despotencializa o ser humano, é ter discernimento racional da vontade positiva e do impulso negativo, enfim, é possuir uma visão objetiva do concreto e do superficial.
Tem de existir o feed-back, o retorno, à volta, o regresso do que está sendo dito em forma de posicionamento moral. Já dizia Inácio de Antioquia que “é melhor calar e ser do que falar e não ser”.
Se uma pessoa não leva a sério o que está sendo dito, então, naturalmente, que cessa, interrompe-se todo o projeto de comunicabilidade entre as pessoas. Se toda possibilidade dialógica fica presa e engessada ao cinismo, às brincadeiras, às piadas, se não existe uma absorção pedagógica no que está sendo falado e comentado, então, opta-se pelo silêncio, tendo em vista que ele é mais rico do que a palavra que não se compromete com quem fala e porque fala.
Lembra-se daquele episódio de uma mulher que aproximou de Jesus de Nazaré e disse que “feliz tinha sido o seio que o amamentara?” Pois bem, Jesus de Nazaré mostra que todo diálogo tem e sempre terá uma implicação moral entre as pessoas que se abrem na direção da comunicação.
Ele respondeu (diálogo é o ballet da palavra, é a dança mágica do ir-e-vir da palavra) que “mais bem-aventurado era quem ouvia e praticava a Palavra que Deus falava”.
O que evidencia pra todos nós que o diálogo sempre gera um comprometimento moral e moralizante na nossa vida.
O Diálogo Social.
Todos nós, seres humanos voltados pra conjugalidade, temos uma necessidade tribal, de nos relacionarmos com pessoas do mesmo nível social, moral, cultural e espiritual.
O casamento não se limita ao “nós” criado pelo “eu” masculino e o “tu” feminino. Vai além disto, está pra lá disto. Ele precisa de se articular na direção do “ele, ela, vós, eles” formando, assim, laços sociais que permitam troca de informações e intercâmbio cultural, como, ainda, de diversão.
O casamento não cria “ilhas”. Cria, isto sim, pontes na construção de novas e positivas relações humanas. Casamento que se fecha socialmente, que estabelece uma visão hermética fechada pros outros, tende a guetificar-se, perder-se na areia movediça da mesmice e de uma monotonia cancerígena.
Uma conjugalidade dividida, repartida, fragmentada pelo fechamento social; inexoravelmente, promove o caos social, pois caminha rumo ao isolamento social. A sobrevivência relacional, dialogal, e cultural com os outros, se dá na trama da abertura. Sem esta abertura, a vida vira um fardo insuportável.
Os padrinhos existem para que o diálogo social seja uma verdade tangível. Padrinhos significam pequenos pais, pais consorte.
O Diálogo Sexual.
De toda forma de diálogo que existe, que se encontra e experimenta-se no mundo, o diálogo sexual é o mais sublime e o mais complexo.
É sublime porque fala daquilo que mais se preserva na vida de um homem e de uma mulher, que é, a intimidade. Não se fala de intimidade pra qualquer um.
A intimidade é uma coisa que se conquista, que se ganha, que se consegue através de um caminhar-junto e de um-celebrar-em-con-junto.
É complexo por causa de todo tabu, mito, conceito e considerações erradas a respeito da sexualidade humana. Existe toda uma teia, uma rede tecida e urdida negativamente no Brasil a respeito de nossa sexualidade.
No Brasil, não existe pedagogia sexual. E o responsável por toda essa anti-pedagogia, por esse anti-diálogo, anti-informação, anti-celebração é o clero romano, com sua visão historicamente deturpada e pecaminosa desta santa e tremenda benção chamada sexo.
Até hoje enfrentamos o tabu da “maçã” no Brasil. A teologia da sexualidade humana articulada da Igreja Católica Romana é do fruto proibido, e, toda colocação que se faz é de que o sexo não é para o prazer e sim, para o dever da procriação. E isto; nem Freud explica!!!
Se ligue bem nisto, quando eu falo de diálogo sexual não estou falando somente em bater papo, conversar, fazer considerações e tecer opiniões gerais sobre sexo. É bem mais do que isto.
Quando falo em diálogo sexual penso, a priori de tudo, na capacidade de se criar uma ambiência poética e gostosamente romântica no dia-a-dia da vida. Não falo do ato em si e, sim, do te-atro que precisa ser criado para se chegar ao ato em si.
Diálogo sexual é, por mais absurdo que possa parecer e que possa chocá-lo ou chocá-la; antes de qualquer coisa, feito de gesto e não de palavra.
Diálogo sexual se constrói em torno de um dengo feito na hora do café, de chamego na saída para o trabalho, de um cafuné gesticulado na hora do almoço, de uma cócega feita na sala de televisão, do cheiro dado no pescoço no corredor da casa, de um toque clandestino no jardim, de uma piscada de olhos assim que entra no carro, de um beijo muito maluco que se manda pelo telefone, de um bilhete que se deixa na porta da geladeira, de um verso que se escreve com o baton no espelho do banheiro e por aí vai até chagar lá...
Depois, existe o diálogo silencioso de dois corpos que se encontram no diálogo mágico, místico, alquímico, da dança de corpos que musicalizam a intimidade em forma de encontro.
O Diálogo Referencial.
Por referencial se entende aquilo que se coloca como lição, exemplo, modelo, paradigma, ponto de origem e de convergimento tanto do ideal quanto do moral, pra quem está começando a difícil arte de viver e sobre-viver neste mundão tão cheio de contradições e ambigüidades.
Referencial é aquele que mostra como é e não como deveria ser. De forma que nós temos dois tipos de referenciais diante da vida e que são: Referencial da Palavra e Referencial do Gesto.
Referencial da Palavra é aquele que sempre trabalha como o pior aforisma negativista da história brasileira e, com certeza, você e eu já ouvimos muito. Ele diz assim: “Faça como eu falo, mas não faça como eu faço”.
Ele é referencial da palavra porque sabe considerar as coisas dentro de uma visão certa, correta, retilínea. Ele sabe mostrar o caminho, mas não caminha com a gente no mesmo caminho; ele sabe qual é o curso da vida, mas, na prática, tudo não passa de diz-curso. Ele é referencial da mesma forma que os escribas eram na Palestina.
Jesus de Nazaré disse que nós “deveríamos fazer e guardar tudo quanto nos dissessem, porém, não deveríamos imitá-los em suas obras; porque dizem e não fazem”. Isto está escrito em Mateus 23:3.
Por outro lado, existe o referencial do gesto. Que não fala e faz; que não tem dis-curso e sim, um per-curso. Caminha com a gente, faz chão com a gente, molha a camisa com a gente, rasga e contrai o nervo na luta pela superação de nossas fraquezas junto com a gente. Ele não aponta o caminho porque é o Caminho. Tiago de Melo diz: “Não tenho um caminho novo, o que eu tenho é um jeito novo de caminhar”. O jeito novo de caminhar apontado por Tiago de Melo é o referencial do gesto que não se torna indi-gesto, dá para degustar. Esta é também a proposta do poeta de Nazaré. Fica como Ele colocou em João 13:15, depois de lavar os pés dos discípulos. Ele disse que “Eu vos dei o exemplo para que, COMO EU VOS FIZ, façais vós também”.
Bem, no que tange a crise da família, talvez esse seja o lado que mais obstacula e prejudica a integralização de todos os que fazem parte da relação familiar.
Já dizia Carl Gustav Jung que todos nós vivemos a tensão frustrante de “ser o que não gostaria de ser”. Creio que, provavelmente, esta seja a maior frustração do ser humano. De viver uma insatisfação interior permanente pelo fato de não se sentir inteiro, integral, holístico, completo.
Por outro lado, o próprio Jung coloca que todos nós precisamos de um referencial do que É a fim de que nós comecemos uma caminhada de vir-a-ser.
Sem um referencial não se chega, não se vai a lugar nenhum. É imprescindível um modelo que nos aponte, concretamente, a realização legítima do verdadeiro ser.
O pai ocupa, como ninguém, este lugar. Ele é o primeiro espelho de nossa vida. É pra ele que começamos a olhar e a desenhar o que nós queremos ser e vamos lutar pra copiar.
O pai é, portanto, o primeiro referencial que nos chega. Durante um tempão, nossa relação vai acontecer no sentido de introjetarmos o que ele é e o que diz ser. E como não poderia deixar de ser, um dia iremos descobrir que ele é só palavra, verbalização, teoria, conjectura e nada mais do que isto.
Com amor,
Com calor,
Me dê seus beijos
Meu prazer,
Meu bem querer,
Meu bem!!!
É assim que a gente fica quando descobre que a “costela” que faltava chegou em forma de poesia, de carne. É assim que pretendo ficar a cada manhã. Porque, por mais que tudo tenha cor e sabor nesta vida, nós caminhamos como-um-ser-na-direção-da-conjugalidade. E ninguém pode dizer que não. Isto é, como diria o escritor e dramaturgo Nelson Rodrigues, o “obvio ululante”.
Quando se ama muito descobre a percepção poética que estava encoberta. Desossifica-se, descoisifica-se a solidão, pois, os opostos se encontram. A solidão tem a capacidade de matar a veia poética de qualquer ser humano, porque todo encontro se dá no meio de muita paixão, do diá-logo e da admiração com o outro supostamente afastado. Quando a gente ama muito, tudo que envolve a pessoa que por nós é amada nos envolve, senão, não é amor!!!
O belo na área da conjugalidade pode ser verificado melhor na vida daquelas coisas que formam e estruturam todo relacionamento.
A vida dialógica
O ser humano não é só um ser que sente e pensa, mas um ser que expressa e sente desejo de dividir o que sente, pensa, descobriu, absorveu e assimilou como achado pessoal, social e cultural. A palavra diálogo é híbrida, é formada pela junção de duas palavras gregas e que são diá, que significa uma proposição através de por meio de e de logos, que significa palavra.
Diálogo é, então, comunicar-se com o outro através do encontro da palavra. Diálogo significa abertura, disponibilidade, partilhar e com-partilhar a condição de ser e fazer na vida. Diálogo tem a dimensão da celebração humana. É bom poder sentar e papear abertamente, livremente, intimamente com a pessoa que gostamos e escolhemos como cúmplice de nossos sonhos e objetivos de realização humana.
Só que diálogo não significa simplesmente poder falar. É bem mais do que isto. Diálogo só se converte em verdadeiro DIÁLOGO, quando existe a consciência de certos comprometimentos entre as pessoas que estão dialogizando. Vejam quais são:
O Diálogo Moral.
Por diálogo moral se entende a comunhão que se dá entre o querer e o fazer. Diálogo moral é ter consciência do que deve fazer e conseguir fazer o que deve. É ter noção clara do que é certo e do que é errado, do bem e do mal, do que é digno e do que é indigno, do que humaniza e do que despotencializa o ser humano, é ter discernimento racional da vontade positiva e do impulso negativo, enfim, é possuir uma visão objetiva do concreto e do superficial.
Tem de existir o feed-back, o retorno, à volta, o regresso do que está sendo dito em forma de posicionamento moral. Já dizia Inácio de Antioquia que “é melhor calar e ser do que falar e não ser”.
Se uma pessoa não leva a sério o que está sendo dito, então, naturalmente, que cessa, interrompe-se todo o projeto de comunicabilidade entre as pessoas. Se toda possibilidade dialógica fica presa e engessada ao cinismo, às brincadeiras, às piadas, se não existe uma absorção pedagógica no que está sendo falado e comentado, então, opta-se pelo silêncio, tendo em vista que ele é mais rico do que a palavra que não se compromete com quem fala e porque fala.
Lembra-se daquele episódio de uma mulher que aproximou de Jesus de Nazaré e disse que “feliz tinha sido o seio que o amamentara?” Pois bem, Jesus de Nazaré mostra que todo diálogo tem e sempre terá uma implicação moral entre as pessoas que se abrem na direção da comunicação.
Ele respondeu (diálogo é o ballet da palavra, é a dança mágica do ir-e-vir da palavra) que “mais bem-aventurado era quem ouvia e praticava a Palavra que Deus falava”.
O que evidencia pra todos nós que o diálogo sempre gera um comprometimento moral e moralizante na nossa vida.
O Diálogo Social.
Todos nós, seres humanos voltados pra conjugalidade, temos uma necessidade tribal, de nos relacionarmos com pessoas do mesmo nível social, moral, cultural e espiritual.
O casamento não se limita ao “nós” criado pelo “eu” masculino e o “tu” feminino. Vai além disto, está pra lá disto. Ele precisa de se articular na direção do “ele, ela, vós, eles” formando, assim, laços sociais que permitam troca de informações e intercâmbio cultural, como, ainda, de diversão.
O casamento não cria “ilhas”. Cria, isto sim, pontes na construção de novas e positivas relações humanas. Casamento que se fecha socialmente, que estabelece uma visão hermética fechada pros outros, tende a guetificar-se, perder-se na areia movediça da mesmice e de uma monotonia cancerígena.
Uma conjugalidade dividida, repartida, fragmentada pelo fechamento social; inexoravelmente, promove o caos social, pois caminha rumo ao isolamento social. A sobrevivência relacional, dialogal, e cultural com os outros, se dá na trama da abertura. Sem esta abertura, a vida vira um fardo insuportável.
Os padrinhos existem para que o diálogo social seja uma verdade tangível. Padrinhos significam pequenos pais, pais consorte.
O Diálogo Sexual.
De toda forma de diálogo que existe, que se encontra e experimenta-se no mundo, o diálogo sexual é o mais sublime e o mais complexo.
É sublime porque fala daquilo que mais se preserva na vida de um homem e de uma mulher, que é, a intimidade. Não se fala de intimidade pra qualquer um.
A intimidade é uma coisa que se conquista, que se ganha, que se consegue através de um caminhar-junto e de um-celebrar-em-con-junto.
É complexo por causa de todo tabu, mito, conceito e considerações erradas a respeito da sexualidade humana. Existe toda uma teia, uma rede tecida e urdida negativamente no Brasil a respeito de nossa sexualidade.
No Brasil, não existe pedagogia sexual. E o responsável por toda essa anti-pedagogia, por esse anti-diálogo, anti-informação, anti-celebração é o clero romano, com sua visão historicamente deturpada e pecaminosa desta santa e tremenda benção chamada sexo.
Até hoje enfrentamos o tabu da “maçã” no Brasil. A teologia da sexualidade humana articulada da Igreja Católica Romana é do fruto proibido, e, toda colocação que se faz é de que o sexo não é para o prazer e sim, para o dever da procriação. E isto; nem Freud explica!!!
Se ligue bem nisto, quando eu falo de diálogo sexual não estou falando somente em bater papo, conversar, fazer considerações e tecer opiniões gerais sobre sexo. É bem mais do que isto.
Quando falo em diálogo sexual penso, a priori de tudo, na capacidade de se criar uma ambiência poética e gostosamente romântica no dia-a-dia da vida. Não falo do ato em si e, sim, do te-atro que precisa ser criado para se chegar ao ato em si.
Diálogo sexual é, por mais absurdo que possa parecer e que possa chocá-lo ou chocá-la; antes de qualquer coisa, feito de gesto e não de palavra.
Diálogo sexual se constrói em torno de um dengo feito na hora do café, de chamego na saída para o trabalho, de um cafuné gesticulado na hora do almoço, de uma cócega feita na sala de televisão, do cheiro dado no pescoço no corredor da casa, de um toque clandestino no jardim, de uma piscada de olhos assim que entra no carro, de um beijo muito maluco que se manda pelo telefone, de um bilhete que se deixa na porta da geladeira, de um verso que se escreve com o baton no espelho do banheiro e por aí vai até chagar lá...
Depois, existe o diálogo silencioso de dois corpos que se encontram no diálogo mágico, místico, alquímico, da dança de corpos que musicalizam a intimidade em forma de encontro.
O Diálogo Referencial.
Por referencial se entende aquilo que se coloca como lição, exemplo, modelo, paradigma, ponto de origem e de convergimento tanto do ideal quanto do moral, pra quem está começando a difícil arte de viver e sobre-viver neste mundão tão cheio de contradições e ambigüidades.
Referencial é aquele que mostra como é e não como deveria ser. De forma que nós temos dois tipos de referenciais diante da vida e que são: Referencial da Palavra e Referencial do Gesto.
Referencial da Palavra é aquele que sempre trabalha como o pior aforisma negativista da história brasileira e, com certeza, você e eu já ouvimos muito. Ele diz assim: “Faça como eu falo, mas não faça como eu faço”.
Ele é referencial da palavra porque sabe considerar as coisas dentro de uma visão certa, correta, retilínea. Ele sabe mostrar o caminho, mas não caminha com a gente no mesmo caminho; ele sabe qual é o curso da vida, mas, na prática, tudo não passa de diz-curso. Ele é referencial da mesma forma que os escribas eram na Palestina.
Jesus de Nazaré disse que nós “deveríamos fazer e guardar tudo quanto nos dissessem, porém, não deveríamos imitá-los em suas obras; porque dizem e não fazem”. Isto está escrito em Mateus 23:3.
Por outro lado, existe o referencial do gesto. Que não fala e faz; que não tem dis-curso e sim, um per-curso. Caminha com a gente, faz chão com a gente, molha a camisa com a gente, rasga e contrai o nervo na luta pela superação de nossas fraquezas junto com a gente. Ele não aponta o caminho porque é o Caminho. Tiago de Melo diz: “Não tenho um caminho novo, o que eu tenho é um jeito novo de caminhar”. O jeito novo de caminhar apontado por Tiago de Melo é o referencial do gesto que não se torna indi-gesto, dá para degustar. Esta é também a proposta do poeta de Nazaré. Fica como Ele colocou em João 13:15, depois de lavar os pés dos discípulos. Ele disse que “Eu vos dei o exemplo para que, COMO EU VOS FIZ, façais vós também”.
Bem, no que tange a crise da família, talvez esse seja o lado que mais obstacula e prejudica a integralização de todos os que fazem parte da relação familiar.
Já dizia Carl Gustav Jung que todos nós vivemos a tensão frustrante de “ser o que não gostaria de ser”. Creio que, provavelmente, esta seja a maior frustração do ser humano. De viver uma insatisfação interior permanente pelo fato de não se sentir inteiro, integral, holístico, completo.
Por outro lado, o próprio Jung coloca que todos nós precisamos de um referencial do que É a fim de que nós comecemos uma caminhada de vir-a-ser.
Sem um referencial não se chega, não se vai a lugar nenhum. É imprescindível um modelo que nos aponte, concretamente, a realização legítima do verdadeiro ser.
O pai ocupa, como ninguém, este lugar. Ele é o primeiro espelho de nossa vida. É pra ele que começamos a olhar e a desenhar o que nós queremos ser e vamos lutar pra copiar.
O pai é, portanto, o primeiro referencial que nos chega. Durante um tempão, nossa relação vai acontecer no sentido de introjetarmos o que ele é e o que diz ser. E como não poderia deixar de ser, um dia iremos descobrir que ele é só palavra, verbalização, teoria, conjectura e nada mais do que isto.
Cristo em nós é, sem nenhuma sombra de dúvida, a referência das referências. Ele é a referência da conjugalidade, a referência da glória. O verbo se fez cônjuge, casou com sua amada e vimos sua glória em plena humanidade. Um casamento perfeito, que gerou santidade na humanidade e humanidade na santidade...
Eu me refiro a Cristo e a igreja!!!
Paulinho Almeida.
Tempo de vida...
Eu me refiro a Cristo e a igreja!!!
Paulinho Almeida.
Tempo de vida...
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