sexta-feira, 23 de outubro de 2009
O problema da leitura e a leitura dos problemas!!!
segunda-feira, 19 de outubro de 2009
A Celebração da Conjugalidade!!!
Entre todas as coisas que Deus fez, nada tem a insustentável beleza da conjugalidade. Ela supera todos os gestos tremendamente poéticos de Deus. Nem o céu, nem a terra, nem o mar e o infinito, pode-se comparar à poesia da conjugalidade.
Salomão, que conhecia do riscado e do bordado da conjugalidade, disse que o que “mais o impressionava era o encontro de um homem com uma mulher”. É verdade, podes crer!
O encontro de um homem com uma mulher; converte-se numa coisa perturbadoramente bela, irresistivelmente lírica, superlativamente lúdica, superdimensionadamente romântica. É, enfim a própria celebração da vida.
Quando um homem encontra a mulher de sua vida, imediatamente escreve uma poesia mais ou menos assim:
Há mar à vista vou navegar
Sem te perder de vista
Vou te amar
Sem ter nenhum segredo
Mil sonhos pra contar
Meu colo,
Minha pele
Meu poema,
Meu prazer,
Meu bem querer
Meu bem!!!
Singrar todo meu corpo
Como o barco o mar
Até o por do sol festeja nosso amor
Com amor,
Com calor,
Me dê seus beijos
Meu prazer,
Meu bem querer,
Meu bem!!!
É assim que a gente fica quando descobre que a “costela” que faltava chegou em forma de poesia, de carne. É assim que pretendo ficar a cada manhã. Porque, por mais que tudo tenha cor e sabor nesta vida, nós caminhamos como-um-ser-na-direção-da-conjugalidade. E ninguém pode dizer que não. Isto é, como diria o escritor e dramaturgo Nelson Rodrigues, o “obvio ululante”.
Quando se ama muito descobre a percepção poética que estava encoberta. Desossifica-se, descoisifica-se a solidão, pois, os opostos se encontram. A solidão tem a capacidade de matar a veia poética de qualquer ser humano, porque todo encontro se dá no meio de muita paixão, do diá-logo e da admiração com o outro supostamente afastado. Quando a gente ama muito, tudo que envolve a pessoa que por nós é amada nos envolve, senão, não é amor!!!
O belo na área da conjugalidade pode ser verificado melhor na vida daquelas coisas que formam e estruturam todo relacionamento.
A vida dialógica
O ser humano não é só um ser que sente e pensa, mas um ser que expressa e sente desejo de dividir o que sente, pensa, descobriu, absorveu e assimilou como achado pessoal, social e cultural. A palavra diálogo é híbrida, é formada pela junção de duas palavras gregas e que são diá, que significa uma proposição através de por meio de e de logos, que significa palavra.
Diálogo é, então, comunicar-se com o outro através do encontro da palavra. Diálogo significa abertura, disponibilidade, partilhar e com-partilhar a condição de ser e fazer na vida. Diálogo tem a dimensão da celebração humana. É bom poder sentar e papear abertamente, livremente, intimamente com a pessoa que gostamos e escolhemos como cúmplice de nossos sonhos e objetivos de realização humana.
Só que diálogo não significa simplesmente poder falar. É bem mais do que isto. Diálogo só se converte em verdadeiro DIÁLOGO, quando existe a consciência de certos comprometimentos entre as pessoas que estão dialogizando. Vejam quais são:
O Diálogo Moral.
Por diálogo moral se entende a comunhão que se dá entre o querer e o fazer. Diálogo moral é ter consciência do que deve fazer e conseguir fazer o que deve. É ter noção clara do que é certo e do que é errado, do bem e do mal, do que é digno e do que é indigno, do que humaniza e do que despotencializa o ser humano, é ter discernimento racional da vontade positiva e do impulso negativo, enfim, é possuir uma visão objetiva do concreto e do superficial.
Tem de existir o feed-back, o retorno, à volta, o regresso do que está sendo dito em forma de posicionamento moral. Já dizia Inácio de Antioquia que “é melhor calar e ser do que falar e não ser”.
Se uma pessoa não leva a sério o que está sendo dito, então, naturalmente, que cessa, interrompe-se todo o projeto de comunicabilidade entre as pessoas. Se toda possibilidade dialógica fica presa e engessada ao cinismo, às brincadeiras, às piadas, se não existe uma absorção pedagógica no que está sendo falado e comentado, então, opta-se pelo silêncio, tendo em vista que ele é mais rico do que a palavra que não se compromete com quem fala e porque fala.
Lembra-se daquele episódio de uma mulher que aproximou de Jesus de Nazaré e disse que “feliz tinha sido o seio que o amamentara?” Pois bem, Jesus de Nazaré mostra que todo diálogo tem e sempre terá uma implicação moral entre as pessoas que se abrem na direção da comunicação.
Ele respondeu (diálogo é o ballet da palavra, é a dança mágica do ir-e-vir da palavra) que “mais bem-aventurado era quem ouvia e praticava a Palavra que Deus falava”.
O que evidencia pra todos nós que o diálogo sempre gera um comprometimento moral e moralizante na nossa vida.
O Diálogo Social.
Todos nós, seres humanos voltados pra conjugalidade, temos uma necessidade tribal, de nos relacionarmos com pessoas do mesmo nível social, moral, cultural e espiritual.
O casamento não se limita ao “nós” criado pelo “eu” masculino e o “tu” feminino. Vai além disto, está pra lá disto. Ele precisa de se articular na direção do “ele, ela, vós, eles” formando, assim, laços sociais que permitam troca de informações e intercâmbio cultural, como, ainda, de diversão.
O casamento não cria “ilhas”. Cria, isto sim, pontes na construção de novas e positivas relações humanas. Casamento que se fecha socialmente, que estabelece uma visão hermética fechada pros outros, tende a guetificar-se, perder-se na areia movediça da mesmice e de uma monotonia cancerígena.
Uma conjugalidade dividida, repartida, fragmentada pelo fechamento social; inexoravelmente, promove o caos social, pois caminha rumo ao isolamento social. A sobrevivência relacional, dialogal, e cultural com os outros, se dá na trama da abertura. Sem esta abertura, a vida vira um fardo insuportável.
Os padrinhos existem para que o diálogo social seja uma verdade tangível. Padrinhos significam pequenos pais, pais consorte.
O Diálogo Sexual.
De toda forma de diálogo que existe, que se encontra e experimenta-se no mundo, o diálogo sexual é o mais sublime e o mais complexo.
É sublime porque fala daquilo que mais se preserva na vida de um homem e de uma mulher, que é, a intimidade. Não se fala de intimidade pra qualquer um.
A intimidade é uma coisa que se conquista, que se ganha, que se consegue através de um caminhar-junto e de um-celebrar-em-con-junto.
É complexo por causa de todo tabu, mito, conceito e considerações erradas a respeito da sexualidade humana. Existe toda uma teia, uma rede tecida e urdida negativamente no Brasil a respeito de nossa sexualidade.
No Brasil, não existe pedagogia sexual. E o responsável por toda essa anti-pedagogia, por esse anti-diálogo, anti-informação, anti-celebração é o clero romano, com sua visão historicamente deturpada e pecaminosa desta santa e tremenda benção chamada sexo.
Até hoje enfrentamos o tabu da “maçã” no Brasil. A teologia da sexualidade humana articulada da Igreja Católica Romana é do fruto proibido, e, toda colocação que se faz é de que o sexo não é para o prazer e sim, para o dever da procriação. E isto; nem Freud explica!!!
Se ligue bem nisto, quando eu falo de diálogo sexual não estou falando somente em bater papo, conversar, fazer considerações e tecer opiniões gerais sobre sexo. É bem mais do que isto.
Quando falo em diálogo sexual penso, a priori de tudo, na capacidade de se criar uma ambiência poética e gostosamente romântica no dia-a-dia da vida. Não falo do ato em si e, sim, do te-atro que precisa ser criado para se chegar ao ato em si.
Diálogo sexual é, por mais absurdo que possa parecer e que possa chocá-lo ou chocá-la; antes de qualquer coisa, feito de gesto e não de palavra.
Diálogo sexual se constrói em torno de um dengo feito na hora do café, de chamego na saída para o trabalho, de um cafuné gesticulado na hora do almoço, de uma cócega feita na sala de televisão, do cheiro dado no pescoço no corredor da casa, de um toque clandestino no jardim, de uma piscada de olhos assim que entra no carro, de um beijo muito maluco que se manda pelo telefone, de um bilhete que se deixa na porta da geladeira, de um verso que se escreve com o baton no espelho do banheiro e por aí vai até chagar lá...
Depois, existe o diálogo silencioso de dois corpos que se encontram no diálogo mágico, místico, alquímico, da dança de corpos que musicalizam a intimidade em forma de encontro.
O Diálogo Referencial.
Por referencial se entende aquilo que se coloca como lição, exemplo, modelo, paradigma, ponto de origem e de convergimento tanto do ideal quanto do moral, pra quem está começando a difícil arte de viver e sobre-viver neste mundão tão cheio de contradições e ambigüidades.
Referencial é aquele que mostra como é e não como deveria ser. De forma que nós temos dois tipos de referenciais diante da vida e que são: Referencial da Palavra e Referencial do Gesto.
Referencial da Palavra é aquele que sempre trabalha como o pior aforisma negativista da história brasileira e, com certeza, você e eu já ouvimos muito. Ele diz assim: “Faça como eu falo, mas não faça como eu faço”.
Ele é referencial da palavra porque sabe considerar as coisas dentro de uma visão certa, correta, retilínea. Ele sabe mostrar o caminho, mas não caminha com a gente no mesmo caminho; ele sabe qual é o curso da vida, mas, na prática, tudo não passa de diz-curso. Ele é referencial da mesma forma que os escribas eram na Palestina.
Jesus de Nazaré disse que nós “deveríamos fazer e guardar tudo quanto nos dissessem, porém, não deveríamos imitá-los em suas obras; porque dizem e não fazem”. Isto está escrito em Mateus 23:3.
Por outro lado, existe o referencial do gesto. Que não fala e faz; que não tem dis-curso e sim, um per-curso. Caminha com a gente, faz chão com a gente, molha a camisa com a gente, rasga e contrai o nervo na luta pela superação de nossas fraquezas junto com a gente. Ele não aponta o caminho porque é o Caminho. Tiago de Melo diz: “Não tenho um caminho novo, o que eu tenho é um jeito novo de caminhar”. O jeito novo de caminhar apontado por Tiago de Melo é o referencial do gesto que não se torna indi-gesto, dá para degustar. Esta é também a proposta do poeta de Nazaré. Fica como Ele colocou em João 13:15, depois de lavar os pés dos discípulos. Ele disse que “Eu vos dei o exemplo para que, COMO EU VOS FIZ, façais vós também”.
Bem, no que tange a crise da família, talvez esse seja o lado que mais obstacula e prejudica a integralização de todos os que fazem parte da relação familiar.
Já dizia Carl Gustav Jung que todos nós vivemos a tensão frustrante de “ser o que não gostaria de ser”. Creio que, provavelmente, esta seja a maior frustração do ser humano. De viver uma insatisfação interior permanente pelo fato de não se sentir inteiro, integral, holístico, completo.
Por outro lado, o próprio Jung coloca que todos nós precisamos de um referencial do que É a fim de que nós comecemos uma caminhada de vir-a-ser.
Sem um referencial não se chega, não se vai a lugar nenhum. É imprescindível um modelo que nos aponte, concretamente, a realização legítima do verdadeiro ser.
O pai ocupa, como ninguém, este lugar. Ele é o primeiro espelho de nossa vida. É pra ele que começamos a olhar e a desenhar o que nós queremos ser e vamos lutar pra copiar.
O pai é, portanto, o primeiro referencial que nos chega. Durante um tempão, nossa relação vai acontecer no sentido de introjetarmos o que ele é e o que diz ser. E como não poderia deixar de ser, um dia iremos descobrir que ele é só palavra, verbalização, teoria, conjectura e nada mais do que isto.
Eu me refiro a Cristo e a igreja!!!
Paulinho Almeida.
Tempo de vida...
terça-feira, 13 de outubro de 2009
Todas as Histórias do Mundo!!!
Em algum lugar está escrito, na febril e infindável produção de Borges, que todas as histórias narradas pelo homem podem ser reduzidas a quatro: a história da cidade sitiada, a história de uma viagem, a história de uma pesquisa e a história do sacrifício de um deus. Estas – segundo o cego vidente de
Creio que se possa tentar uma simplificação e reduzir todas as histórias a duas, ambas infinitas: aquela que segue um itinerário retilíneo, peremptório, previsível e planificado e aquela que segue um itinerário curvilíneo, livre, caprichoso e imprevisível.
Poderia haver um terceiro tipo, aquele circular, no qual a previsibilidade da reta e a ondulação da curva se interpenetram, como na eterna teoria do eterno retorno: o ano perfeito especulado por Platão no Timeu, no qual os sete planetas, uma vez equilibradas as suas diferentes velocidades, retornariam ao ponto de partida; os infinitos nascimentos, mortes e renascimentos descritos por Demócrito, Nietzsche e Blanqui; a repetição de ciclos semelhantes, mas não idênticos, proferida por Heráclito, com o seu mundo gerado pelo fogo e que o fogo perenemente devora.
E poderia existir ainda uma quarta história: a da linha em espiral que ao infinito se lança e do infinito redobra:
Não gosto de me deixar levar pela suave perversão dos labirintos. Prefiro entrever, nas nossas aventuras humanas, infinitas linhas retas e infinitas linhas curvas, que se alternam, se entrecruzam e se entrelaçam ao longo de toda a história secular que nos fez homens. Sempre com a esperança da quadratura do círculo.
HARD E SOFT
Em torno da dicotomia “reta e curva” sempre houve uma disputa, como na epistemologia, quanto ao dilema entre “ciência hard” e “ciência soft”, a autopoiese e a heteropoiese, o método e a sua ausência, a ordem e a desordem, o geral e o particular, o necessário e o possível, a lei e o acaso, a previsibilidade e a imprevisibilidade, a falibilidade e a infalibilidade, assim como a objetividade e a subjetividade.
Quando os termos dialéticos são assim tão conflituais, é impossível permanecer neutro. Tomem os dois maiores arquitetos deste século, Le Corbusier e Oscar Niemeyer. O primeiro é franco-suiço racionalista. Não pode deixar de ser a favor da linha reta: “A curva é cansativa, perigosa e funesta, possui um verdadeiro efeito paralisante... A estrada curva é um resultado arbitrário, fruto do acaso, do descuido, de uma ação puramente instintiva. A estrada retilínea é uma resposta a uma solicitação, é fruto de uma intervenção precisa, de um ato de vontade, um resultado atingido com plena consciência. É algo útil e belo.”
Niemeyer é brasileiro, ou melhor, mestiço, pois em suas veias conflui sangue árabe, espanhol e alemão. Eis, portanto, a sua declaração sobre o mesmo campo: “Não é o ângulo reto que me atrai e nem mesmo a linha reta, dura, inflexível, criada pelo homem. O que me atrai é a curva livre e sensual... De curvas é feito todo o universo, o universo curvo de Einstein.”
A linha reta é limitada por suas próprias regras, por seus próprios binários, que a impedem de desviar. Se varia, ja não é mais reta. A linha curva, pelo contrário, passa por onde quiser, encontrando a sua razão de ser na sua própria liberdade:
Calvino confessava: “Prefiro confiar na linha reta, na esperança de continuar até o infinito e tornar-me inatingível.” Carlo Levi preferia alimentar uma esperança diversa: “Se a linha reta é a mais curta entre dois pontos fatais e inevitáveis, as divagações a prolongarão: e se essas divagações se tornam tão complexas, tão emeranhadas e tortuosas, tão rápidas que não deixam rastro, talvez a morte não nos teste mais, talvez o tempo se perca e possamos ficar ocultos nos esconderijos mutáveis.”
PRECISÃO E APROXIMAÇÃO
Assumamos a linha reta, dura e inflexível
Durante milênios, até o final do século XVIII, a humanidade viveu sob a égide da aproximação, do misterioso, do mágico, do emotivo, desarmado diante das pestes, dos raios e das invasões. Em seguida, o Iluminismo e a Industrialização descobriram e privilegiaram as forças libertadoras da razão, consentindo que se impusesse com uma tal presunção que não tardou a transformar-se em tirania.
Mas a aproximação da sociedade rural e a precisão da sociedade industrial poderiam ser tomadas
Uma vez entregue a precisão às máquinas, ainda falta recuperar muitos aspectos da aproximação, que já não será mais aquela rude e primitiva da época rural. Salvaguardados os ganhos da experiência industrial, estes devem transformar os limites em oportunidades, conjugando a competição com a generosidade (cooperação) e a lucidez racional com o calor emotivo. Os nossos netos poderão dedicar-se à estética até porque os nossos avós dedicaram-se aos negócios, segundo a sucessão já destacada por Jhon Adams: “Devo estudar a política e a guerra, para que os meus filhos tenham a possibilidade e possam assim dar aos filhos deles a possibilidade de estudar pintura, poesia, música e cerâmica”.
“
Paulinho Almeida.
Tempo de vida...
quarta-feira, 7 de outubro de 2009
Um Novo Tempo, Apesar dos Perigos.
O Sermão do monte é a ousada PROPOSTA de Jesus de Nazaré em ser-mãos que se propõe a moldar, a transformar homens simples em cidadãos do Reino de Deus. Mahatmah Gandy dizia que o cristianismo não precisava de toda bíblia para produzir transformações significativas no mundo; bastava aos discípulos de Jesus de Nazaré observar as “bem aventuranças”. Ora, gerar transformações significativas no mundo é pré-suposto de um novo tempo, apesar dos perigos. O pano de fundo histórico onde se tece o desafio de gerar um novo tempo é marcado pela pressão política romana, pela pressão filosófica grega e pela pressão religiosa hebraica. Como se não bastasse, a mente dos 12 homens chamados por Jesus de Nazaré estavam impregnadas de revanchismo; no inconsciente coletivo hebraico pairava a necessidade urgente de um libertador político, filosófico e religioso, posto que a pressão tinha essa tríade. A grande proposta do evangelho não é gerar mudanças estruturais, é sim e a acima de tudo gerar “Um Novo Tempo, Apesar dos Perigos”. Vem comigo, vejamos quais os desafios que demandam o Novo tempo.
No Novo Tempo, Faz-se Necessário a Reprogramação da Mente Para Ousar Novos Sonhos e Alçar Novos Vôos.
A mente humana é viciada
No Novo Tempo, Precisamos Lidar Com as Variações da Alma.
A alma é um complexo de surpresas, é ela responsável pelo registro, o arquivamento, a catalogação das impressões externas, das vivências contraditórias, das informações que chegam e grudam, colam, se alojam no mais profundo do nosso psiquismo, gerando a partir das sensações sentidas, o trágico sentimento de baixa-estima, de ansiedade, que é sem sombra de dúvida, a porta que abre para o horizonte da desumanização. O que Jesus de Nazaré está querendo dizer quando pontua pra gente “Não andar ansioso por coisa alguma”. (v.22) é que precisamos lidar com as variações da alma. Quando não relacionamos bem com as variações da alma, somos carregados por estas variações como folha seca ao vento. A alma é como o filho pródigo, quer o prazer sem fazer se quer nenhum sacrifício. Posto o desafio de ser “bem aventurado” na vida, vem a reboque também os desafios, as demandas, os sacrifícios, sem os quais não se pode desenvolver o reino de Deus. Tais desafios mexem com nossas emoções, espremem nossa essência, tira o nosso substrato. Quando isso acontece nossa alma começa a tergiversar, claudicar, mancar entre querer fazer o bem e não conseguir fazê-lo, querer não fazer o mal e acaba fazendo; exatamente por causa dessas variações que não pedem licença para dominar a sede dos sentimentos, levando-nos a exclamar, “miserável homem que sou quem me livrará do corpo dessa morte?” Jesus de Nazaré ironiza quando diz que as nossas necessidades por mais que sejam legítimas não conseguem acrescentar quarenta centímetros (côvado) ao curso da vida, ou seja, não podem nos fazer “andar...” [...]. Andar é necessidade básica, todavia andar ansioso por alguma coisa tira o nosso foco, embaça nossa visão, violenta nossos sonhos, e faz adoecer a esperança. Andar ansioso faz-nos presa fácil das inquietações. Percebo no ceio da igreja certa inquietação, a busca por muita quantidade e pouca qualidade, muita ação e pouca unção, muito carisma e pouco caráter; muito cargo e pouco encargo; até porque, o que sempre fez a igreja caminhar foi o avesso do que citamos acima. As características da igreja deveria ser aquelas citadas no ensinamento de Jesus de Nazaré. Antes de tudo, qualidade depois quantidade, unção depois ação, caráter depois carisma, encargo depois o cargo. Quando os valores são mudados nascem às inquietações, e toda inquietação não passa de andar em círculos, alguma coisa parecida com quarenta anos andando no deserto. As variações da alma precisam estar sendo bem monitorada por aqueles que pretendem andar lado a lado com Jesus de Nazaré, e esta monitoração tem haver com auto-conhecimento. No novo tempo, apesar dos perigos, o auto-conhecimento surge da entrega sem reservas ao projeto do reino de Deus; entregar-se sem reserva não é função do Espírito Santo e sim de todos os que aceitaram o desafio de buscar primeiro o reino de Deus e sua justiça. “E não vos entregueis as inquietações”. (v.29). Que a nossa inquietação seja esta: “Se viver, viverei para o Reino e se morrer, morrerei para o Reino!”. Este tipo de vida faz-nos lidar melhor com as variações da alma!!!
No Novo Tempo, Nossa Esperança Deve Ser Bem Maior que a Vingança.
Várias conquistas das classes dominadas na história da humanidade nasceram da vingança e não da esperança. Diferente desta máxima, Jesus de Nazaré propõe que a implantação do Reino de Deus não deveria jamais partir da vingança. Por esta razão ensina o mestre que deveríamos “amar nosso inimigo e orar pelos que nos perseguem”; quando isto começa a acontecer é porque a esperança começou a dilatar nosso coração, sensibilizando nossa alma; dando-nos a entender que até o maior inimigo carrega na sua interioridade potencialidade amigável, posto que pela oração tudo possa mudar! O mesmo acontece com quem nos persegue, pressupondo que o perseguidor um dia caminhará lado a lado com o perseguido. Quem ver a vida com estas perspectivas, com certeza está gestante da esperança. É preciso pedir ao Pai que faça a esperança abrir as asas sobre nós, alçar vôos rumo ao novo tempo, apesar dos perigos. Quando andarmos sob o signo da esperança, mudanças significativas acontecerão na familia que é a célula mater da sociedade; maridos poderosos chefões se transformarão em cavalheiros, esposas tiranas se transformarão em verdadeiras Amélias voluntariamente, filhos rabugentos serão parceiros incontestes do bem estar familiar, pais encrenqueiros deixarão de suscitar ira aos seus filhos. O que de fato quero jogar pra dentro da sua alma, é que toda transformação começa dentro de casa. Perceba que toda violência nos grandes centros urbanos no mundo inteiro, nasce exatamente do sentimento de vingança que é fruto da violência sofrida dentro da própria casa. Faz-se necessário debruçarmos ante o trono de Deus e pedirmos urgentemente, “venha a nós o teu Reino”. O Reino de Deus manifestado quebra o revanchismo anula os preconceitos, abole a violência, expõe as diferenças, manieta a vingança e acima de tudo engravida nossa alma de esperança, e a alma grávida de esperança é certo que dará a luz um novo tempo, tempo este que será marcado pela flexibilidade, onde se anda a segunda milha, ou seja, mais do que o exigido. Neste tempo a extravagância no amor sempre estará superando a possibilidade do ódio mostrar sua carranca, sua careta. Os discípulos de Jesus de Nazaré teriam que administrar bem suas emoções, pois por mero capricho queriam mandar fogo para destruir uma cidade inteira de samaritanos, por causa de uma pequena oposição a eles (Lucas 9:51-56). Imagina se eles pudessem pegar Herodes, Cezar e outros; na esquina? Não é assim que nos sentimos quando aparentemente nossa autoridade é contestada, quando nosso projeto é interrompido, quando esposas resistem aos maridos, quando maridos mandam e desmandam nas esposas, quando nossa liberdade de expressão é caçada, quando a ditadura tenta destruir a democracia, quando a oposição confronta a situação? No Reino de Deus, o Rei não é verdugo porque ama os súditos, os súditos não são servos porque foram chamados a ser amigos e amigos sabem os segredos do amigo. Perceba que nesta perspectiva, todas as coisas nos foram acrescentadas. O interessante é que estas coisas acontecem do particular para o geral. O problema está em que procuramos transformações do geral para o particular. Quando digo que o Reino flui do particular para o geral é porque o conselho fora dado antes e acima de tudo ao “pequenino rebanho” dos doze discípulos. O texto diz que o Pai se agradou em dar ao rebanhozinho e não ao rebanhão, o seu Reino. “Buscai, antes de tudo, o seu Reino e a sua justiça, e estas coisas vos serão acrescentadas”. (v.31). “Não temais, ó pequenino rebanho; porque vosso Pai se agradou em dar-vos o seu Reino”. (v.32). Deus está esperando nosso posicionamento em relação ao novo tempo! No novo tempo nossa esperança deve ser bem maior que a vingança! No novo tempo segundo a declaração profética, “O lobo habitará com o cordeiro, e o leopardo se deitará com o cabrito; o bezerro, o leão novo e o animal cevado andarão juntos, e um pequenino os guiará. A vaca e a ursa pastarão juntas, e as suas crias juntas se deitarão; o leão comerá palha como o boi. A criança de peito brincará sobre a toca da serpente, e o já desmamado meterá a mão na cova do basilisco. Não se fará mal nem dano algum em todo o meu santo monte, porque a terra se encherá do conhecimento do Senhor, como as águas cobrem o mar” (Isaias 11:6-9). Perceba que a voz profética decreta que as coisas antagônicas, os opostos, os contrários se atrairão, e juntos comporão o Reino no novo tempo e então, não haverá mais perigo, porque os indomáveis serão domesticados, glória a Deus. Tudo isto acontecerá quando o “pequenino rebanho” encarnar a mensagem “que ao Pai se agradou em dar-vos o seu Reino”. Que venha este novo tempo e seja banido todo o perigo!!!
No Novo Tempo, a Essência da Vida é a Voluntariedade e a Generosidade.
Quem vive sob o signo da escravatura não conhece o que é voluntariedade e generosidade, até porque a escravatura estupra, violenta o dom supremo que é o promotor da essência da vida. O amor é o dom supremo, e é no útero do amor que vemos nascer à voluntariedade e a generosidade. Quando declaro que voluntariedade e generosidade é a essência da vida, de fato quero dizer que voluntariedade e generosidade são como dois braços capazes de abraçar, promover cura, acariciar. Verbalizar que amamos sem transformar isto em gestos não gera nenhum tipo de mudança, não inaugura o novo tempo. Voluntariedade é disponibilidade de tempo, de bens; generosidade é a entrega deste tempo, destes bens. Estes gestos enobrecem a humanidade, leva-nos a andar de mãos dadas rumo ao novo tempo, faz-nos caminhar o caminho mais alto que o nosso, faz-nos pensar o pensamento mais alto que o nosso. “Vendei os vossos bens”, isto é imperativo e urgente. O acúmulo de bens nos desumaniza, despotencializa a solidariedade, quebra os dois braços, voluntariedade e generosidade, que deveria abraçar promover cura, acariciar; entulhando a nascente do amor, impedindo a inauguração do novo tempo. “Dai esmolas”, também é imperativo e urgente. O ato de dar esmolas deve ser muito mais do que desencargo de consciência, quando existe generosidade neste ato elevamos o ser carente ao mesmo nível do ser suprido, e assim cumprimos a máxima do evangelho, do reino de Deus. “Porque tive fome me deste de comer, tive sede me deste de beber, estava preso e foste me visitar”. A prática do evangelho deve ser exageradamente diferente da prática do estado, da política, da organização social. É necessário resgatarmos o fundamento desta prática. Às vezes colocamos a responsabilidade no governo, no estado, nos políticos e nada fazemos como igreja para mudar a diferença berrante que existe até mesmo no nosso meio. Jesus de Nazaré disse que seus discípulos seriam conhecidos no mundo pelo exercício do amor. “E nisto conhecereis que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros”. A igreja primitiva impactou não pela mídia, não pela propaganda, mas pela vida que vivia, pela voluntariedade e generosidade existente naquela primeira “comum unidade”. Os primeiros discípulos fizeram para eles, bolsa que não desgastaram tesouro inextinguível nos céus, aonde não chega o ladrão, nem a traça consome. O coração é o responsável por tudo que possa acontecer. É no coração que vemos o limiar do novo tempo, no coração estará o resgate da voluntariedade e da generosidade. Precisamos urgentemente colocar o coração em tudo que formos realizar para o próximo, principalmente para os menos favorecidos. “Porque, onde está o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração” (Lc. 12:34). Tesouro é algo que contém presupostamente riquezas, bens inalienáveis; às vezes seres humanos querem transformar bens espirituais em coisas palpáveis, isto só é possível quando tocamos o outro como a nós mesmo, eis à razão exposta por Jesus de Nazaré de amarmos o próximo como a nós mesmos. Este tipo de vida está escasso, está em extinção, todavia se entregarmos nosso coração ao Pai ele vai resgatar através do seu espírito homens e mulheres que serão capazes de inaugurar o novo tempo. “Do coração procede às saídas da vida”. A tríade que revela um coração convertido e convencido de que deve fazer o bem sem olhar a quem, são reveladas em Lucas doze versos trinta e três; veja aí, “Vendei”, “daí”, “fazei”. Este é o desafio de “Um novo tempo apesar dos perigos”.
“Vendei os vossos bens e dai esmolas, fazei para vós outros, bolsas que não desgastem tesouro inextinguível nos céus, aonde não chega o ladrão, nem a traça consome”. (v.33).
“Porque, onde está o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração”. (v.34).
Conclusão.
Jesus de Nazaré trouxe ensinos preciosos acerca do que realmente devemos buscar. Servir aos outros como Ele serviu, a ponto de dar a Sua vida pela nossa salvação, é o modelo a seguir. O melhor é ser importante para Deus, gerar um novo tempo apesar dos perigos e nada mais!!!
Aplicação.
Procure um meio de servir aos outros por meio do seu testemunho pessoal. Aceite o desafio de falar do amor de Deus que alcançou o seu coração. Sirva sem ser visto. Minha paixão acima da razão e lucidez tem nome: Jesus de Nazaré!!!
Por Ele viver...
Por Ele morrer...
Por Ele ressurgir...
É-ter-na-mente!!!
Paulinho Almeida.
Tempo de Vida...
domingo, 4 de outubro de 2009
Um Novo Credo!!!
Creio no Deus desaprisionado do Vaticano e de todas as religiões existentes e por existir. Deus que precede todos os batismos preexiste aos sacramentos e desborda de todas as doutrinas religiosas.
Livre de teólogos derrama-se graciosamente no coração de todos, crentes e ateus, bons e maus, dos que se julgam salvo e dos que se crêem filhos da perdição, e dos que são indiferentes aos abismos misteriosos da pós-morte.
Creio no Deus que não tem religião, criador do universo doador da vida e da fé, presente em plenitude na natureza e nos seres humanos. Deus ourives em cada ínfimo elo das partículas elementares, da requintada arquitetura do cérebro humano ao sofisticado entrelaçamento do trio de quarks.
Creio no Deus que se faz sacramento em tudo que aproxima, atrai, enlaça, abraça, e une - o amor. Todo amor é Deus e Deus é o real. Em se tratando de Deus, bem diz o pensador Islâmico Rumî, “não é o sedento que busca a água, é a água que busca o sedento. Basta manifestar sede e a água jorra”.
Creio no Deus que se faz refração na história humana e resgata todas as vítimas de todo o poder capaz de fazer o outro sofrer. Creio em teofanias permanentes e no espelho da alma que me faz ver um outro que não sou eu.
Creio no Deus que, como o calor do sol, sinto na pele, sem, no entanto conseguir fitar ou agarrar o astro que me aquece.
Creio no Deus da fé de Jesus de Nazaré, Deus que se aninha no ventre vazio da mendiga e se deita na rede para descansar dos desmandos do mundo. Deus da Arca de Noé, dos cavalos de fogo de Elias, do peixe grande de Jonas. Deus que extrapola nossa fé discorda dos nossos juízos e ri de nossas pretensões; enfada-se com nossos sermões moralistas e diverte-se quando o nosso destempero profere blasfêmias.
Creio no Deus que, na minha infância, plantou uma jabuticabeira em cada estrela e, na juventude, enciumou-se quando me viu beijar a primeira namorada. Deus festeiro e seresteiro, Ele que criou a lua para enfeitar as noites de deleite e as auroras para emoldurar a sinfonia passarinha dos amanheceres.
Creio no Deus dos maníacos depressivos, das obsessões psicóticas, da esquizofrenia alucinada. Deus da arte que desnuda o real e faz a beleza resplandecer prenhe de densidade espiritual. Deus bailarino que, na ponta dos pés, entra em silêncio no palco do coração e, soada a musica, arrebata-nos à saciedade.
Creio no Deus do estupor de Maria, da trilha laboral das formigas e do bocejo sideral dos buracos negros. Deus despojado, montado num jumento, sem pedra onde recostar a cabeça, aterrorizado pela própria fraqueza.
Creio no Deus que se esconde no avesso da razão atéia, observa o empenho dos cientistas em decifrar-lhe os jogos, encanta-se com a liturgia amorosa de corpos excretando sumos a embriagar espíritos.
Creio no Deus intangível ao ódio mais cruel, às diatribes explosivas, ao hediondo coração daqueles que se nutrem com a morte alheia. Misericordioso, Deus se agacha à nossa pequenez, suplica por um cafuné e pede colo, exausto frente à profusão de estultices humanas.
Creio, sobretudo que Deus crê em mim, em cada um de nós, em todos os seres gerados pelo mistério abissal de três pessoas enlaçadas pelo amor e cuja suficiência desbordou nossa criação sustentada, em todo o seu esplendor, pelo frágil fio de nosso ato de fé.
Frei Betto.
Paulinho Almeida.
Tempo de Vida...